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O processo eleitoral no Brasil chegou ao fim. Nesta etapa pós-eleições, este blog continuará acompanhando as análises e desdobramentos da participação dos evangélicos (e da dimensão religiosa) no pleito 2010.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

As motivações deste blog. Neste Outubro 2010, olhar para o passado para enxergar o presente... (as motivações deste blog) Parte II

Magali do Nascimento Cunha
Em 2002 Lula concorreu com o candidato presbiteriano Anthony Garotinho (PSB, depois de sair do PMDB), que ficou em terceiro lugar no 1º turno, tendo recebido 17,86% dos votos, boa parte deles atribuídos a evangélicos – número muito próximo do que recebeu a candidata evangélica Marina Silva em 2010. No entanto, no caso de 2010, deve-se levar em conta que desta vez,  os evangélicos são identificados em maior número e que, diferente de Garotinho,   Marina Silva não teve votos concentrados nos evangélicos. Entre os eleitores de Marina, há ex-petistas descontentes com o PT (como ocorreu com Heloísa Helena em 2006), há um movimento ambientalista com e sem militância político-partidária, há jovens que foram atraídos pelo discurso do novo, que não se sentiam representados por nenhum outro candidato. Há ainda a classe média afeita ao discurso do “alternativo”.
Em 2010, Marina não fez uma campanha religiosa, como fez Garotinho em 2002. Quem fez a campanha religiosa de Marina foram grupos de evangélicos, que projetaram nela, assim como em Garotinho, seu sonho de estar no poder, com bandeiras distantes daquelas que Marina trouxe do PT para o PV (ambientalismo, justiça social). Evangélicos colocaram na boca de Marina campanhas que reforçam o discurso clássico da moralidade protestante em relação à sexualidade, muito especialmente, o que foi somado a uma tentativa de retorno ao discurso da ameaça aos cristãos que Dilma representaria. Já que agora o tema da “ameaça vermelha”, comunista, é anacrônico (não cabe mais), surgiu o discurso da ameaça satânica, atribuindo à chapa de Dilma a encarnação do demônio, por um possível culto a Satã praticado na família (!!!) do seu vice.
Descontado o tom surreal desta última abordagem, é interessante observar que estes argumentos não apareceram em 2006, já que não houve candidato identificado com a fé evangélica naquela campanha. A afinidade ideológica com o que Geraldo Alckmin, o então candidato forte da oposição, representava, levou muitos evangélicos a apoiá-lo: ele sim, teve forte concorrência, com 41,64% dos votos contra 48,86% de Lula, que teria vencido o primeiro turno, não fosse a denúncia encampada pela grande mídia, de último momento, sobre um dossiê contra Serra que teria sido vendido ao PT (situação que se repetiu em 2010).
Falando em mídia, a adesão a Marina precisa ser também entendida como resultado de uma ação intensiva deste segmento social, o que carece de uma cuidadosa análise. Percebida como “coletora de votos”, não de Serra mas de Dilma, Marina foi “adotada” pelos veículos de comunicação (desta vez assumindo publicamente sua opção política por Serra, como o fez o jornal O Estado de São Paulo), que contribuíram muito na construção da imagem da mulher que concorreria com outra mulher; da força que brota da frágil e franzina nortista contra a fragilidade (“inexperiência”) contrastada na força de Dilma, a filha de um estrangeiro fugido; da alternativa contra a continuidade. Não foi preciso muito esforço na  análise do discurso presente no noticiário da TV e dos jornais e revistas para se identificar esta construção de imagem. Ficou visível que a campanha de Serra poderia ser salva com a ajuda da “coletora de votos”.
(continua em http://evangelicoseleicoes2010.blogspot.com/2010/10/neste-outubro-2010-olhar-para-o-passado_05.html)

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