O que temos neste espaço:

O processo eleitoral no Brasil chegou ao fim. Nesta etapa pós-eleições, este blog continuará acompanhando as análises e desdobramentos da participação dos evangélicos (e da dimensão religiosa) no pleito 2010.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

As motivações deste blog. Neste Outubro 2010, olhar para o passado para enxergar o presente... (as motivações deste blog) Parte III

Magali do Nascimento Cunha
Nesta trajetória, contribuem evangélicos fazendo campanha entre si por Marina, na trilha da campanha de serristas também por ela, colocando na atitude da candidata um “messianismo” que ela não pareceu assumir. Como na mensagem de e-mail dirigida a “Líderes do Avivamento” que recebi de um grupo de metodistas:
O Governo dos Justos é uma possibilidade espiritual que a igreja precisa buscar. Temos que usar bem nossa autoridade como eleitores e eleitoras, está em nossas um chofar de óleo, o nosso titulo, pois com ele nós levantamos os governantes, então precisamos ter clareza de nosso papel como igreja. Graças a Deus foi-se o tempo de não termos opções entre os Cristãos comprometidos, hoje temos um numero muito bom de pessoas comprometidas com o evangelho e com suas lideranças espirituais, homens e mulheres, discípulos e discípulas que podem compor este governo, os Justos.
Isso não é um messianismo é a fé agindo e pensando estrategicamente em aliança e submissão a palavra de Deus...
Vamos Juntos sonhar e trabalhar por nossos sonhos...
Há três decretos que precisamos declarar  e trabalhar com os olhos neles:
Só Jesus Cristo é o Senhor!!!!!
O Sangue de Jesus tem Poder!!!!
É chegado o Reino de Deus!!!!
Nessa direção declaramos "É chegado o Reino de Deus ao Brasil"
Precisamos ser como encontramos na carta de Paulo, II aos Corintios 5.7 "Nós somos da fé e por isso não andamos pelo que vemos"
O sonho do governo dos Justos é legitimo e possível em Deus. (Provérbios 29.2; Deuteronômio 17.15)
Uma das mensagens em resposta a esta primeira, que também chegou à minha caixa de mensagens, dizia:
Estou contigo, precisamos eleger uma pessoa que tem os mesmos pricipios que nós, chega de votar em pessoas de caráter duvidoso ou que apoiam causas que não estão de acordo com a Palavra de Deus O Reino de Deus Chegou à Nação sim e o Governo do Justo será prova disto. Eu não apoio a eleição de satanista, nem defensores do aborto, lei da homofobia, espíritas, meu referencial é a Palavra de Deus. O que passar disto está fora da visão, mas se todos os chamados cristãos não pensam da mesma forma, pacíência! Um forte abraço e Domingo é Marina 43.
Estas mensagens são uma reprodução, em síntese, do conteúdo da mensagem a seguir publicada pelo Apóstolo Renê Terranova:
Queridos,
Por que Marina Silva?
Porque existe um tempo de visitação. Estamos vivendo dias de apostasia, nos quais tipos de anticristos têm se levantado declarando que “Nem Cristo me Tira da Vitória”. Essa é uma declaração muito acima de uma religiosidade, é um decreto de desrespeito a Deus e ao seu Messias.
Num país cristão é inadmissível que tais palavras fiquem sem reação. Se fosse em um país muçulmano, com certeza, por tal declaração, a pessoa já seria impugnada, só por essa afronta.
Temos lido críticas de pensadores do Brasil, como Arnaldo Jabor, Marília Gabriela, e muitos outros, que estão como “profetas da alerta”: mostrando  o pavor que é essa senhora sustentar um poder fascista, que compromete a seriedade da nossa nação e que usa a pobreza para sustentar o poder.
Jornais do mundo estão noticiando para alertar o Brasil de que, por este caminho, entrará em decadência. Isso tudo nos apavora, pois sabemos que nossa ação profética, legítima, ainda está muito tímida e aquém do avanço necessário. Lembremos que o reino de Deus é tomado à força. Ainda que usemos todos os argumentos proféticos e declaremos “É chegado o reino de Deus”, temos que redimir essa nação! Há um trabalho a ser feito.
O tempo da oportunidade chegou! Não subestimemos o tempo da visitação! Precisamos de um Justo no Poder! O Governo do Justo trás multiplicação! Vamos limpar os céus da nossa nação! Vamos bombardear os céus com profecias de avivamento! 2010: o Brasil aos Teus pés!
Outros comandos proféticos, liberados pelas bocas dos justos, infelizmente não convencem alguns que estão impregnados de desejos horrendos; outros vendidos, outros negociados, pessoas que perderam a sensibilidade do valor ético, moral e espiritual e que por qualquer coisa entregam seu povo e sua nação nas mãos de pessoas que a Bíblia chama de meros homens. São estes os que se entregam por qualquer preço, não mais credibilizando  o preço que nos comprou e que nos fez cidadãos de um Reinoque não terá fim.
Os que não estão contaminados por essa virose do poder precisam reagir. Vamos nos unir nessa chamada maravilhosa para sermos instrumentos da mudança! Ainda que alguns não leiam isso de forma profética, pelo menos com base na inteligência comum podemos raciocinar em função do bem estar da nação. A decisão por uma nação livre é mais importante que qualquer outra coisa, pois estão em jogo nossos descendentes e nossa herança.
Não vamos ouvir uma voz que traga para a nossa nação desconfortos administrativos futuros para todos, em nome da glutonaria de alguns. Penso tal como canta o levita e profeta Fernandinho: “Homens se desviaram, profetas se venderam, mas existem aqueles que não se dobraram diante de outros deuses”. Estou crédulo de que somos inegociáveis, e que existem muitos que não se contaminarão.
Vamos fazer bonito nas urnas e levantar Marina Silva, que é ética, límpida e preparada, que fez uma campanha limpa, como é próprio do seu caráter ilibado!
Avancemos para o propósito e vamos nos unir na decisão mais nobre que um homem pode tomar neste momento histórico: entrar no poder pela porta da frente, sem ter negociado sua idoneidade nas portas do fundo. Por um Brasil mais justo e um povo mais preparado, peço seu VOTO de confiança. Acredito no seu VOTO de mudança. Se você não VOTAR eles VOLTAM!!!
Um alerta: sou um cidadão livre e sou um líder que oriento, mas não imponho. Meus discípulos, minhas ovelhas, não têm obrigação de caminharem em alguma direção insana.

Ainda é necessário um exercício detalhado de análise dos discursos acima correlacionados, mas é nítida a dimensão “messiânica” de se estabelecer a “chegada do Reino de Deus” e do “governo do Justo” na figura de Marina Silva. Como dito acima, isto não foi proclamado por ela mas por seus eleitores.
O que Renê Terranova proclamou se soma ao que foi expresso por Neuza Itioka, Valnice Milhomens, Silas Malafaia (por um período) e outras lideranças evangélicas cujo discurso é historicamente pautado por temáticas muito distantes daquelas que sempre marcaram a trajetória política de Marina Silva. É fato que há evangélicos que carregam as mesmas marcas discursivas em sua história e que se posicionaram favoravelmente à candidatura de Dilma, como Manoel Ferreira e lideranças da Igreja Universal do Reino de Deus. Uma hipótese é que benefícios concretos advindos do apoio ao governo e à tendência de continuidade falam mais forte do que alinhamentos político-ideológicos. Outra hipótese é que acompanham as comunidades de baixa renda onde estão inseridos, que sofrem os efeitos positivos dos projetos sociais do governo Lula e esperam continuidade.
Mas o curioso mesmo é que as lideranças tradicionalmente “conservadoras” politicamente que apoiaram Marina Silva, o fizeram embasando-se numa imagem da candidata como defensora de bandeiras da moralidade evangélica, o que não foi desenvolvido por ela e muito menos pelo programa partidário a que ela está atrelada. Neste sentido, o discurso de Silas Malafaia justificando a  recente retirada do seu apoio a Marina parece ser mais coerente, a despeito de toda a controvérsia em torno de sua figura como enunciatário, e da opção declarada por Serra (contraditória pelas razões apresentadas). O texto da carta de Malafaia diz:
NÃO VOTO MAIS EM MARINA E DIGO POR QUÊ
Pior do que o ímpio é um cristão que dissimula. Eu queria entender como uma pessoa que se diz cristã, membro da Assembleia de Deus, afirma que se for eleita presidente do Brasil vai convocar um plebiscito para que o povo decida se aprova ou não o aborto, ou se aprova ou não o uso da maconha.
Marina precisa aprender com a ex-senadora Heloísa Helena, católica praticante e pertencente a um partido ultrarradical. Heloísa Helena declarou peremptoriamente: “Sou contra o aborto!” Na audiência pública da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, deu um verdadeiro show, não apenas à luz de questões religiosas, como também científicas. Ela mostrou a desgraça, a mazela, e uma das coisas que mais aborrecem a Deus: a força dos poderosos contra os indefesos.
Ao propor plebiscito, Marina está “jogando para a torcida”, para ficar bem com os que são contra e com os que são a favor. SAI DE CIMA DO MURO, MINHA IRMÃ! QUE PLEBISCITO COISA NENHUMA! O povo brasileiro não tem todas as informações necessárias para decidir esta questão de maneira isenta. Temos toda a mídia a favor dessa nojeira do aborto. Com certeza vão jogar pesado para influenciar.
Cultivar uma vida cristã significa ser radical. Radical contra o pecado, contra esse sistema mundano dirigido pelo diabo. Como diz a Bíblia, não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento (Romanos 12.2).
A palavra de Marina como cristã teria de ser apenas isto: “Sou contra o aborto e a legalização da maconha”. Como faltaram convicção e firmeza em suas declarações, uma vez que o cristão tem de “mostrar a cara” posicionando-se de forma categórica contra o pecado, Marina perdeu meu voto. Já que não tenho tantas opções, votarei em Serra para presidente.
Em suma, mudar por manipulação é ignorância. Mas mudar por adquirir conhecimento é inteligência. Não mudei meu voto para presidente da República por interesses mesquinhos e pessoais. Tenho compromisso com Deus, a Sua Palavra e a Igreja, e não posso omitir-me diante de uma decisão tão importante para a nação. Não vou macular a minha consciência para agradar ninguém. A verdade é que Marina não nega suas raízes petistas.
Ao cobrar de Marina uma posição mais explícita, coerente com o discurso que os evangélicos colocaram na boca da candidata, Malafaia torna nítida a incoerência entre o apoio em torno de posturas “condizentes” com as expectativas de evangélicos e a realidade da postura política da Marina, da campanha e das bandeiras do partido ao qual ela se vinculou.
No que diz respeito a “desistir de Marina” Malafaia foi coerente com seus princípios. Diferente do discurso dos outros líderes que manifestaram apoio até o fim, quando, em relação à postura “aberta” de Marina, mantendo a fidelidade corporativa, buscaram amenizar os efeitos da proposta de plebiscito sobre aborto e descriminalização do uso de drogas, decepcionante para quem esperava postura/”testemunho” “mais firme” da candidata, como no trecho a seguir do manifesto de evangélicos pró-Marina:
Marina, com o apoio de juristas, líderes e parlamentares cristãos, durante a campanha eleitoral, informou à sociedade que se eleita não tomaria nenhuma iniciativa, na qualidade de chefe do Executivo, com o objetivo de descriminalizar o aborto no Brasil. Disse ainda que, se necessário e se provocada, não restringiria o assunto ao Congresso Nacional. Ela entende que um tema com esta complexidade não pode ficar restrito aos parlamentares, mas sim submetido a um profundo e amplo debate pela sociedade, por meio de um plebiscito.
Importante esclarecer que o presidente não convoca plebiscito, mas sim o Congresso Nacional. Marina defende esta forma de decidir o assunto, mas não o convocaria. Entendemos que Marina inteligentemente optou por discutir este tema tão sério e delicado com o povo, na convicção de que os brasileiros saberão responder a essa questão, como demonstram todas as pesquisas sobre o tema.
Portanto, deixar um assunto tão complexo para deputados e senadores pode ser um risco à vida. Pois é bem mais fácil para os defensores do aborto obter maioria no Congresso do que na decisão popular. O plebiscito, aliás, teria a vantagem de dar fim às contínuas tentativas de mudar a legislação sobre o tema: a decisão popular, soberana, calaria por muito tempo as vozes mais renitentes.
A votação expressiva de Marina Silva deixou claro: por um lado, a articulação corporativa dos evangélicos; por outro, o fato de uma mulher evangélica captar apoio de segmentos não-religiosos da sociedade justamente pelo discurso “não- conservador” com ares de alternativa e mudança; o lugar da mídia na construção de imagens que tornou possível a captação de apoio de segmentos tão distintos.
Vamos acompanhar agora os movimentos do segundo turno. Como se comportará Marina? Como se posicionarão seus apoiadores?
As ideias simples e básicas, aqui expostas, com um olhar panorâmico do passado relacionado ao presente, traz reflexões profundas sobre a relação religião-eleições. Ela nunca esteve tão forte e precisa ser afirmada, não para ser negada, mas para ser conclamada a ações responsáveis.

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