A definição das eleições 2010 se aproxima. O lugar da religião nunca foi tão ressaltado. Para não perder de vista as motivações que geraram a construção deste blog, leia: http://evangelicoseleicoes2010.blogspot.com/2010/10/neste-outubro-2010-olhar-para-o-passado_6828.html
Magali do Nascimento Cunha
Este espaço é uma contribuição para a reflexão em torno do papel da religião, especificamente a cristã, e mais particularmente a fé evangélica, no processo eleitoral experimentado no Brasil em 2010, agora encerrado. Estão postados textos que contribuem com o entendimento deste momento com vistas ao futuro: a uma participação política cristã responsável. Contribuições são bem-vindas dentro desta proposta.
O que temos neste espaço:
O processo eleitoral no Brasil chegou ao fim. Nesta etapa pós-eleições, este blog continuará acompanhando as análises e desdobramentos da participação dos evangélicos (e da dimensão religiosa) no pleito 2010.
sábado, 30 de outubro de 2010
A mais religiosa de todas as campanhas
Por pressão principalmente das igrejas, questões como o aborto e a união estável homossexual ganharam este ano relevância nunca vista em eleições anteriores
Por José Maria Mayrink, O Estado de São Paulo
Por menos que tenham pesado nos resultados das eleições - um dado a ser ainda analisado - temas religiosos tumultuaram a campanha para a Presidência da República. A religião, que em outras ocasiões entrou no debate por iniciativa do episcopado católico, subiu ao palanque e invadiu a internet em 2010 por pressão de cristãos de várias igrejas, com a introdução de questões como o aborto e a união estável de homossexuais. Bispos e pastores encamparam a discussão, mas a sugestão partiu das bases, para forçar os principais candidatos, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), a se definirem. Na quinta-feira, Bento XVI endossou indiretamente essa posição, falando a bispos brasileiros em Roma, aos quais aconselhou orientar os eleitores a rejeitar pelo voto candidatos e partidos favoráveis ao aborto e à eutanásia.
"Esse discurso do papa é uma ingerência direta nos negócios do Brasil, o presidente Lula deveria reclamar com o Vaticano", reagiu Reginaldo Prandi, professor aposentado do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP). Ao analisar a introdução do tema religioso nas eleições, ele afirma que "as igrejas puseram o aborto na campanha e os marqueteiros caíram na esparrela, acolhendo uma questão que não é assunto para presidente da República, mas para deputados, em eleições proporcionais". Para o sociólogo, "o catolicismo perdeu a noção de consciência social e apelou para temas morais, como o aborto e a união homossexual, porque não tem o que dizer".
Prandi achou ridículo Dilma e Serra terem ido a Aparecida, por ocasião da festa da Padroeira do Brasil, "porque candidato não tem de pedir a bênção de bispo nem da Santa". Para o sociólogo, "religião não é uma aliada confiável nessas circunstâncias e, como existem várias religiões, os presidenciáveis devem ter irritado os evangélicos, que baniram a devoção a Nossa Senhora de suas vidas". Ao analisar os números do primeiro turno, Prandi chega à conclusão de que o debate em torno de temas religiosos não foi a causa, mas um elemento desestabilizador para Dilma não ter vencido em 3 de outubro. "A religião tumultuou a campanha, e isso foi interessante", observou.
"A religião sempre teve importância nas eleições, sobretudo a Igreja Católica, mas este ano surgiu um fato novo, o ativismo religioso de grupos ou segmentos que, ao defender a vida e condenar o aborto, vetaram candidatos e partidos, recomendando aos fiéis que não votassem neles", disse a socióloga Maria das Dores Campos Machado, professora da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Chama a atenção, diz, a ênfase dada a um tema moral, em contraste com campanhas passadas, quando as preocupações eram a pobreza, a fome e a justiça social, plataformas dos militantes das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), que estavam nas origens do PT.
O debate sobre aborto, na avaliação de Maria das Dores, levou a uma queda de braço que não se via nas últimas décadas, não só entre bispos da Igreja Católica, mas também entre líderes evangélicos. "Essa discussão é nociva, porque me parece marcada pelo fisiologismo e pela troca de favores", adverte. "As igrejas se dividem e disputam espaço no plano regional, ao declarar apoio pragmático a um candidato."
Fundamentalismo. Outro sociólogo, Luiz Alberto Gomez de Souza, diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Cândido Mendes, no Rio, acha que houve uma valorização excessiva do tema religioso e uma instrumentalização dessa questão por grupos fundamentalistas. "Nunca houve, em eleições anteriores, essa polarização que se viu agora, nem mesmo quando a Igreja Católica condenava candidatos favoráveis ao divórcio, como o senador Nelson Carneiro (autor e defensor do projeto)", observou o sociólogo. Em sua avaliação, foi negativo cobrar dos candidatos uma definição pessoal em relação ao aborto, porque "no mundo moderno e leigo em que vivemos, isso é fazer confusão entre fé e política".
É diferente a opinião do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Geraldo Lyrio Rocha. Ao falar sobre a polêmica criada pelo bispo de Guarulhos, d. Luiz Gonzaga Bergonzini, e outros bispos que recomendaram aos eleitores não votar em Dilma, ele declarou, em Brasília, que o aborto não poderia ter ficado fora do debate eleitoral. A CNBB não citou nomes de candidatos, preferindo aconselhar os católicos a escolher pessoas comprometidas com a defesa de valores éticos, entre eles a defesa da vida, mas reconheceu o direito de um bispo se pronunciar da maneira que quiser, em sua diocese.
"D. Geraldo Lyrio tomou uma posição equilibrada, de acordo com a tradição do episcopado de não apoiar ou vetar candidatos, mas de falar em princípios", elogiou o padre José Oscar Beozzo, historiador e teólogo. Mesmo quando o cardeal Joaquim Arcoverde, arcebispo do Rio, tentou, sem sucesso, criar um partido em 1915, a Igreja limitou-se a dar orientação geral. Em 1933, a Liga Eleitoral Católica apoiou a instituição do voto feminino, então restrito às viúvas e às desquitadas, e fez campanha pelo alistamento de eleitores, arregimentados à porta dos templos. Em 1946, os bispos combateram comunistas e divorcistas, sem citar nomes.
A novidade da campanha de 2010, segundo Beozzo, foi ter entrado em cena um lobby contra o aborto, "fazendo dele a questão única por influência dos movimentos Pro Vida e Opus Dei, como se fosse essa a posição oficial da Igreja". Esse equívoco provocou um racha no episcopado, como não se via desde 1968, "quando um grupo de bispos pediu ao presidente Costa e Silva que interviesse na CNBB para banir os comunistas do episcopado". Em vez de vetar candidatos supostamente favoráveis ao aborto, sugere o teólogo, os bispos deveriam dar aos fiéis a liberdade de tomar posição de acordo com sua consciência.
Fonte: O Estado de São Paulo, 30 de outubro de 2010. http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,a-mais-religiosa-de-todas-as-campanhas,632257,0.htm
Líderes religiosos são a favor de orientar fiéis
Maioria defende aconselhamento indireto, que ofereça parâmetros morais para avaliação de candidatos, e liberdade para que cada um faça sua escolha
Por Amanda Romanelli e Alexandre Gonçalves - O Estado de S.Paulo
Representantes religiosos ouvidos pelo Estado coincidem em um ponto: consideram positivo orientar os fiéis em matéria política. Mas a maioria defende uma orientação indireta. A religião serviria para oferecer os parâmetros morais usados na avaliação dos candidatos. Depois, cada fiel eleitor realizaria sua escolha com liberdade.
Em alguma medida, concordam com a linha oficial adotada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Na quinta-feira, o papa Bento XVI recordou aos bispos brasileiros "o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas", sublinhando, no entanto, a liberdade e responsabilidade de cada fiel.
"A única diretriz é que (as pessoas) expressem com coerência a fé em todas as circunstâncias da vida", explica o padre Gregório Teodoro, da Catedral Metropolitana Ortodoxa de São Paulo. Ele afirma que as igrejas da comunhão ortodoxa não costumam apoiar candidatos, mas procuram difundir valores cristãos. De modo indireto, tais valores orientam as escolhas dos fiéis.
Não há unidade de posição nas igrejas evangélicas. As igrejas históricas costumam concordar com a linha adotada por ortodoxos e católicos. A Igreja Metodista, por exemplo, elaborou a cartilha do voto ético, assinada pelo presidente do Colégio Episcopal, bispo João Carlos Lopes. O documento condena os votos em branco e nulo. Proíbe também qualquer propaganda política durante cultos. E orienta a não votar em candidatos apenas por que são evangélicos. "Procurem identificar nos políticos propostas que se harmonizam com as nossas."
A cartilha chama atenção para a credibilidade de Lula, os avanços sociais e econômicos. Ao mesmo tempo, cita escândalos de corrupção e a recente aprovação da Lei da Ficha Limpa.
Algumas igrejas, no entanto, apoiam formalmente os candidatos. A Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, manifestou apoio oficial à candidatura de Dilma Rousseff. Já o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, apoia José Serra.
De acordo com Geraldo Campetti, diretor executivo da Federação Espírita Brasileira, a proposição política não faz parte das reuniões que ocorrem nos centros. "Não há orientação direta. Cada um tem a sua consciência. Como o voto é secreto e universal, cada um tem o direito de escolher o próprio candidato de acordo com seu livre arbítrio."
Já a União Nacional das Entidades Islâmicas (UNI) não só orienta os fiéis como recomenda o voto em Dilma. "Existe uma recomendação da UNI que se vote na continuidade", diz o xeque Jihad Hassan Hammadeh, presidente do conselho de ética da UNI. "As pessoas são livres, mas vemos muitas opiniões favoráveis a Dilma. Deixamos as mesquitas abertas para que os candidatos pudessem expor seus programas." O xeque explica que religião e política não são assuntos dissociados na comunidade islâmica. "Nós seguimos o seguinte princípio: a religião rege a vida do muçulmano em todos os seus aspectos. O xeque é um líder religioso e também político."
A monja Coen, adepta do zen-budismo, define a política como o momento maior para pensar o bem comum. Na eleição, segundo ela, "é preciso avaliar as propostas para ver quais correspondem aos seus valores e propostas de vida".
Fonte: O Estado de São Paulo, 30 de outubro de 2010. http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101030/not_imp632081,0.php
Modelo 'Amway' difundiu voto tucano entre evangélicos
Por Christian Klein, Jornal Valor, 29 out 2010
Difícil encontrar uma ocasião que mais simbolize a mistura de política e religião que tomou conta do segundo turno da eleição presidencial do que a ocorrida na quarta-feira, 21, na Comunidade Cristã El Shaddai, igreja evangélica localizada no bairro Ipiranga, na capital paulista.
A convocação urgente - endereçada em convite eletrônico a pastores batizados de "Generais de Guerra" - é um caso exemplar de como o segmento religioso entrou de corpo e alma na campanha à Presidência que termina domingo.
Campanha que se viu, de repente, enredada em temas tabus como aborto, união civil de homossexuais, descriminalização das drogas e mostrou a força de um grupo de interesse. Dos bispos da Igreja Católica e seus panfletos distribuídos na saída das missas à mobilização dos evangélicos pela internet, os líderes religiosos tiveram o senso de oportunidade de aproveitar o momento.
É o caso de Renê Terra Nova. Apoiador de Marina Silva (PV), ele embarcou de Bíblia e notebook em seu avião - um Falcon 010, comprado no ano passado - para fazer campanha país afora para José Serra (PSDB) no segundo turno. Tomou para si a tarefa de empreender uma grande cruzada pelo tucano, como fizera para a candidata do PV.
Conhecido o resultado das urnas, no domingo, 3, Terra Nova conta que conversou com Marina Silva por telefone e, em seguida, se apresentou às hostes do PSDB. Na primeira semana do primeiro turno, teve uma reunião em Brasília com Mônica Serra, mulher do presidenciável, e com o candidato a vice da chapa, Indio da Costa. Desde então, passou a gastar dinheiro do próprio bolso em viagens com finalidade exclusivamente política. Garante não ter pedido nada em troca: nenhum cargo, verba para projeto de assistência social, ou concessão de rádio ou TV. "Sou um oferecido", diz, numa declaração de desprendimento que não corresponde ao seu comportamento.
Renê Terra Nova tem um estilo personalista. No encontro
Na reunião política, Renê Terra Nova ensinou diversos truques para driblar a legislação eleitoral e enviar mensagens subliminares de apoio a José Serra durante as pregações nos cultos (leia abaixo). O apóstolo ressaltou muito a importância da internet como uma "ferramenta poderosa" de persuasão fora do púlpito.
"Correio eletrônico, You Tube, Facebook, Twitter, e-mails, MSN, se vire nos 30. Começe a mandar informações", ordenou a seus pastores, depois de se vangloriar de ter 14 mil seguidores no Twitter, mas não seguir ninguém.
Terra Nova abriu a reunião estratégica - que não escapou ao formato de culto, entremeada por orações e cânticos - dizendo que havia apenas 11 dias para fazer algo "grande", ou seja, uma virada de José Serra sobre Dilma Rousseff (PT).
Momentos antes, em entrevista ao Valor, ele reclamava dos institutos de pesquisas. Justamente na véspera, levantamento do Vox Populi apontava que Dilma abrira vantagem de 12 pontos. O pastor lembrava que Marina Silva havia sido vítima dos institutos no primeiro turno e que o mesmo estaria acontecendo com Serra. "É imoral, é estuprar a realidade", vociferava.
O prognóstico poderia provocar um anticlímax no encontro. Mas Renê Terra Nova não fez por menos. Minutos depois, no discurso aos pastores, afirmaria que duas pesquisas, pela manhã, já haviam sido divulgadas e apontavam empate técnico entre Serra e Dilma. Não citou a fonte.
Com o poder da palavra e uma alta dose de marketing, Terra Nova multiplicou fiéis, aumentou seu poder econômico e, agora, afirma, pretende conquistar poder político, a partir do rebanho sob seu controle.
Sua base é Manaus, onde ergueu um templo capaz de abrigar 7.500 pessoas e que custou US$ 17 milhões. É a matriz de sua denominação, o Ministério Internacional da Restauração (MIR), que tem igrejas no Rio, Natal, Porto Velho e Roraima. Ao todo, o MIR congrega pouco mais de 100 mil adeptos.
Seu poder de influência, contudo, não reside aí. Terra Nova cresceu no meio evangélico ao introduzir no Brasil uma nova forma, uma metodologia, de arrebatar fiéis. O modelo tem inspiração clara no mercado. "É marketing de rede", assume.
A estratégia piramidal é muito semelhante à utilizada pela marca Amway, que esteve em voga nos anos 90. Cada pessoa que entra num grupo ou "célula" de 12 discípulos tem a missão de ser um pastor/líder e formar seu próprio grupo de 12. O resultado esperado é um avanço em progressão geométrica. A primeira geração de 12 é seguida por uma segunda, de 144, que forma uma terceira, de 1.728, uma quarta de 20.736, e assim por diante. É o Modelo dos 12, ou M-12, que se inspira no número de apóstolos que seguiram Jesus e que dá origem à chamada Visão Celular, em referência ao grupo de células que se multiplicam.
Renê Terra Nova está no topo da cadeia no Brasil. Ele trouxe o modelo - que surgiu na Coreia, nos anos 50 - depois de importá-lo da Colômbia em 1998. Viajou, à época, acompanhado de outra pastora, Valnice Milhomens, tida como a maior responsável pela difusão da candidatura Marina Silva no eleitorado evangélico. Valnice, porém, preferiu a neutralidade no segundo turno.
Terra Nova diz ter 30 mil pastores sob sua influência, os quais, por sua vez, teriam sob sua cobertura 325 mil líderes de células, abrangendo ao todo 6 milhões de fiéis. É um rebanho gigantesco - próximo da maior igreja protestante no Brasil, a Assembleia de Deus, que fez 19 deputados federais entre os 64 da bancada evangélica eleita no primeiro turno. Em Manaus, porém, Renê Terra Nova não elegeu os dois candidatos a deputado que apoiava, um estadual e outro federal.
Questionado sobre a confiabilidade da estimativa de 6 milhões de fiéis que estariam sob sua influência, ele é evasivo. "Nós também temos nossos institutos de pesquisa...", diz, sem esconder o sorriso de ironia.
Terra Nova é um nome de peso no competitivo mercado religioso. A Visão Celular lhe proporciou expandir seu projeto, ao amealhar fiéis que não precisam abandonar as igrejas as quais costumam frequentar. As reuniões dos grupos de 12 discípulos são realizadas em residências, duram no máximo uma hora e têm como apelo a proximidade entre seus integrantes. Numa igreja grande, com 3 ou 4 mil frequentadores, por exemplo, dificilmente um pastor tem condições de saber ou tempo para confortar alguém, individualmente, caso esteja passando por um grave problema, como a morte de um parente.
A Visão Celular de Renê Terra Nova tenta se aproveitar desse dilema entre quantidade e qualidade. E fornece a uma gama difusa de pastores independentes - que abriram suas próprias igrejas - um corpo de ideias coeso e uma metodologia para expansão. Tal qual uma franquia.
A comparação com empresas não é descabida. Para que a multiplicação das células se dê, os fiéis são incentivados a ser pró-ativos. Por nove meses, frequentam uma "escola de líderes". Em um ano e meio, estão autorizados a empreender e abrir seu próprio grupo. Por experiência, a melhor forma de a célula ir adiante é que seja formada metade por homens e metade por mulheres.
O modelo é uma radicalização da teologia da prosperidade, que move a maioria das denominações evangélicas neopentecostais. Incentiva que o fiel seja ele mesmo um empresário da fé e não só um beneficiário de práticas aprendidas na igreja e voltadas para sua ascensão social.
A ideia de prosperidade está tão entranhada que, em discurso que antecedeu ao de Renê Terra Nova, uma de suas discípulas, Nídia Sá, precisou ressaltar a importância da política não como meio para se ganhar dinheiro, mas por se tratar de uma questão ideológica, para preservar uma sociedade com princípios cristãos. Nídia, ao falar do púlpito, era o símbolo de como a política e religião se casaram nesta eleição. À frente dos mais de 100 pastores, seu notebook trazia um adesivo escrito "Serra 45".
O projeto de poder político é visto como uma consequência inevitável da autonomia econômica. "Queremos governar. Cansamos de ser cauda", diz Renê Terra Nova, ao afirmar que o resultado surpreendente de Marina Silva mostrou a força do segmento evangélico. A onda verde, para ele, foi, essencialmente, uma onda cristã, de apoio à candidata do PV, embora Marina não tenha enfatizado o fato de ser evangélica.
Terra Nova conta que, no início, era muito crítico do mundo da política, mas que chegou à conclusão de que não é possível ficar à margem. Tanto que criou o chamado Governo dos Justos, que admite ser o braço político de sua organização. A intensa participação na campanha de José Serra é um sinal dos novos tempos. Outro é a expansão midiática.
"Decidi agora ir para a TV. Vou dar as caras daqui para frente. Preciso aparecer mais", diz o pastor, em referência a negociações para ter um programa na televisão e à entrevista que concedia, que chamou de "milagre", pois recusara pedidos de vários jornais e revistas nacionais de grande circulação. O que não deixa de ser outra estratégia de marketing.
Fonte: IHU, Instituto Humanitas, Unisinos: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=37825
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Palavras de teólogos e lideranças católicas sobre o Papa e as Eleições
(Ainda sobre o aborto, aquela questão que tem unido evangélicos e católicos)
A intervenção de Bento XVI na política brasileira
Por Leonardo Boff
É importante que na intervenção do Papa na política interna do Brasil acerca do tema do aborto, tenhamos presente este fato para não sermos vítimas de hipocrisia: nos catolicíssimos países como Portugal, Espanha, Bélgica, e na Itália dos Papas já se fez a descriminalização do aborto (Cada um pode entrar no Google e constatar isso). Todos os apelos dos Papas em contra, não modificaram a opinião da população quando se fez um plebiscito. Ela viu bem: não se trata apenas do aspecto moral, a ser sempre considerado (somos contra o aborto), mas deve-se atender também a seu aspecto de saúde pública. No Brasil acada dois dias morre uma mulher por abortos mal feitos , como foi publicado recentemente em O Globo na primeira página. Diante de tal fato devemos chamar a polícia ou chamar médico? O espírito humanitário e a compaixão nos obriga a chamar o médico até para não sermos acusados de crime de omissão de socorro.
Curiosamente, a descriminalização do aborto nestes paises fez com que o número de abortos diminuisse consideravelmente.
O organismo da ONU que cuida das Populações demonstrou há anos que quando as mulheres são educadas e conscientizadas, elas regulam a maternidade e o número de abortos cai enormente. Portanto, o dever do Estado e da sociedade é educar e conscientizar e não simplesmente condenar as mulheres que, sob pressões de toda ordem, praticam o aborto. É impiedade impor sofrimento a quem já sofre.
Vale lembrar que o canon 1398 condena com a excomunhão automática quem pratica o aborto e cria as condições para que seja feito. Ora, foi sob FHC e sendo ministro da saude José Serra que foi introduzido o aborto na legislação, nas duas condições previstas em lei: em caso de estupro ou de risco de morte da mãe. Se alguém é fundamentalista e aplica este canon, tanto Serra quanto Fernando Henrique estariam excomungados. E Serra nem poderia ter comungado em Aparecida como ostensivamente o fez. Mas pessoalmene não o faria por achar esse cânon excessivamente rigoroso.
Mas Dom José Sobrinho, arcebispo do Recife o fez. Canonista e extremamente conservador, há dois anos atrás, quando se tratou de praticar aborto numa menina de 9 anos, engravidada pelo pai e que de forma nenhuma poderia dar a luz ao feto, por não ter os orgãos todos preparados, apelou para este canon 1398 e excomungou os medicos e todos os que participaram do ato. O Brasil ficou escandalizado por tanta insensibilidade e desumanidade. O Vaticano num artigo do Osservatore Romano criticou a atitude nada pastoral deste Arcebispo.
É bom que mantenhamos o espírito crítico face a esta inoportuna intervenção do Papa na política brasileira fazendo-se cabo eleitoral dos grupos mais conservadores. Mas o povo mais consciente tem, neste momento, dificuldade em aceitar a autoridade moral de um Papa que durante anos, como Cardeal, ocultou o crime de pedofilia de padres e de bispos.
Como cristãos escutaremos a voz do Papa, mas neste caso, em que uma eleição está em jogo, devemos recordar que o Estado brasileiro é laico e pluralista. Tanto o Vaticano e o Governo devem respeitar os termos do tratado que foi firmado recentemente onde se respeitam as autonomias e se enfatiza a não intervenção na política interna do pais, seja na do Vaticano seja na do Brasil.
Fonte: Informativo da Rede de Cristãos (por e-mail) bolrede@terra.com.br
Frei Betto lamenta que Papa seja "usado como cabo eleitoral"
Por Patrícia Ferreira, especial para a Rede Brasil Atual
Frei Betto lamenta a postura do papa Bento XVI, que voltou a trazer o aborto ao debate político brasileiro às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais. Na manhã desta quinta-feira (28), o papa esteve com 15 bispos brasileiros do Nordeste, a quem convocou a condenar o aborto e orientar fieis a "usar o próprio voto para a promoção do bem comum". Em entrevista à Rede Brasil Atual, o frei brasileiro sustenta que há temas mais relevantes para o momento.
"Lamento que Bento XVI esteja sendo usado como cabo eleitoral, seja para qual partido for. Há temas muito mais importantes do que aborto e religião para se discutir em uma campanha eleitoral", afirmou Frei Betto. "Aborto se evita com políticas sociais. Num país em que se sabe que os futuros filhos terão saúde, escolaridade e oportunidades de trabalho, o número de aborto é reduzido. Lula fez o governo que mais fez para evitar o aborto no Brasil", analisa.
No discurso proferido durante reunião em Roma, o papa afirmou que se "os direitos fundamentais da pessoa ou da salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas". O discurso do papa reconheceu a possibilidade de eventuais efeitos negativos: "Ao defender a vida, não devemos temer a oposição ou a impopularidade".
Frei Betto relembrou que tal postura se parece com as de dom Nelson Westrupp, dom Benedito Beni dos Santos e dom Airton José dos Santos, bispos que subscreveram um panfleto produzido pela Regional Sul 1 da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O material trazia um pedido aos cristãos que não votassem no PT e em partidos que defendessem o aborto. Para o frei, o objetivo era clararamente fazer um manifesto anti-Dilma.
"Lamento também que três bispos tenham desviado a atenção da opinião pública para introduzir oportunisticamente o tema no debate", critica. Atuante em movimentos sociais, Frei Betto afirma que muitas mulheres acabam optando pelo aborto por se sentirem inseguras com o futuro que darão aos filhos.
Recordando a polêmica
O aborto ganhou status de tema de campanha desde o final do primeiro turno. A questão é apontada por analistas como uma das responsáveis pela perda de intenção de votos da candidata governista na reta final, causando o segundo turno. Desde o dia seguinte da votação, a discussão permaneceu na disputa entre os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).
O fenônemo levou a campanha de Dilma a promover eventos com lideranças evangélicas e de outras religiões. Ela assumiu ainda compromissos em "defesa da vida" e contrários a mudanças na legislação sobre interrupção da gravidez. O PSDB teria empregado, segundo relatos publicados em jornais e blogues, uma ampla ação de telemarketing ativo (milhares de telefonemas a eleitores) com o objetivo de espalhar a informação de que a petista seria favorável ao aborto.
A onda foi seguida por figuras relevantes do cenário religioso. A Comissão em Defesa da Vida, grupo católico coordenado pelo padre Berardo Graz, divulgou nota incitando os fiéis a não votar em Dilma. No último sábado (23), porém, o bispo dom Angélico Sândalo Bernardino leu, em São Paulo, uma carta pela 'verdade e justiça nas eleições' deste ano. O conteúdo da carta critica a atitude da Regional Sul 1 e a utilização eleitoreira do tema aborto.
Fonte: Rede Brasil Atual - http://www.redebrasilatual.com.br/temas/politica/frei-betto-lamenta-que-papa-seja-usado-como-cabo-eleitoral
No discurso proferido durante reunião em Roma, o papa afirmou que se "os direitos fundamentais da pessoa ou da salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas". O discurso do papa reconheceu a possibilidade de eventuais efeitos negativos: "Ao defender a vida, não devemos temer a oposição ou a impopularidade".
Frei Betto relembrou que tal postura se parece com as de dom Nelson Westrupp, dom Benedito Beni dos Santos e dom Airton José dos Santos, bispos que subscreveram um panfleto produzido pela Regional Sul 1 da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O material trazia um pedido aos cristãos que não votassem no PT e em partidos que defendessem o aborto. Para o frei, o objetivo era clararamente fazer um manifesto anti-Dilma.
"Lamento também que três bispos tenham desviado a atenção da opinião pública para introduzir oportunisticamente o tema no debate", critica. Atuante em movimentos sociais, Frei Betto afirma que muitas mulheres acabam optando pelo aborto por se sentirem inseguras com o futuro que darão aos filhos.
Recordando a polêmica
O aborto ganhou status de tema de campanha desde o final do primeiro turno. A questão é apontada por analistas como uma das responsáveis pela perda de intenção de votos da candidata governista na reta final, causando o segundo turno. Desde o dia seguinte da votação, a discussão permaneceu na disputa entre os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).
O fenônemo levou a campanha de Dilma a promover eventos com lideranças evangélicas e de outras religiões. Ela assumiu ainda compromissos em "defesa da vida" e contrários a mudanças na legislação sobre interrupção da gravidez. O PSDB teria empregado, segundo relatos publicados em jornais e blogues, uma ampla ação de telemarketing ativo (milhares de telefonemas a eleitores) com o objetivo de espalhar a informação de que a petista seria favorável ao aborto.
A onda foi seguida por figuras relevantes do cenário religioso. A Comissão em Defesa da Vida, grupo católico coordenado pelo padre Berardo Graz, divulgou nota incitando os fiéis a não votar em Dilma. No último sábado (23), porém, o bispo dom Angélico Sândalo Bernardino leu, em São Paulo, uma carta pela 'verdade e justiça nas eleições' deste ano. O conteúdo da carta critica a atitude da Regional Sul 1 e a utilização eleitoreira do tema aborto.
Fonte: Rede Brasil Atual - http://www.redebrasilatual.com.br/temas/politica/frei-betto-lamenta-que-papa-seja-usado-como-cabo-eleitoral
O segundo turno das eleições e a ameaça do submundo
Por Antonio Carlos Ribeiro
A três dias das eleições presidenciais, em caráter plebiscitário, a opinião pública defronta-se com o acirramento da confusão generalizada, dos discursos ameaçadores, da mordacidade irracional – ainda mais assustadora na boca de jornalistas televisivos – intensificada com a teimosa normalidade democrática, com as notícias atemorizadoras que não se concretizam. E nem são desmentidas. Também não se espera que todos creiam em tudo que está publicado, especialmente nos grandes veículos de comunicação. A intenção deliberada é que o leitor sinta-se horrorizado, desanime da esperança depositada num regime democrático, ceda ao clima de terror criado e financiado pelos centros de poder econômico. E, alcançada certa eficiência, embarque na central de boatos, rendendo-se ao caos pretendido.
A confusão reinante é resultado de uma estratégia, única alternativa à democracia que resiste, não se instabiliza com as chamadas dos jornais e nem se assusta com as ameaças. Para que alcançasse essa eficiência, a campanha recebeu muitas doações, foi organizada com apoios financeiros e políticos, estruturou-se com acesso direto à grande mídia, que refundiu informações desencontradas e simulou uma ordem. Perversa.
O nicho inicial integra ressentidos, conservadores, moralistas, fundamentalistas e capazes de ações extremas como a Tradição, Família e Propriedade (TFP), a organização católica tradicionalista, conservadora, reacionária e anticomunista.
À TFP somaram-se monarquistas, saudosistas que veem a democracia como a deturpação do império que cedeu espaço à República há mais de 120 anos, sob a influência dos integralistas, um partido político de classe média e inspirado no fascismo italiano, os camisas verdes, e a ala ultraconservadora da Igreja Católica paulista.
Com traços ideológicos semelhantes e métodos parecidos, essa conjunção de forças tem atuado num esquema de difamação e distribuição de informações falsas nos subterrâneos da campanha presidencial. Com um discurso que confronta o pluralismo, espaço cada vez mais reduzido nos regimes democráticos e índices de rejeição que crescem com a melhoria das condições de vida, esses grupos minúsculos e bem articulados encontraram na internet um meio de acesso a grandes contingentes, com livre atuação e anonimato, necessário à pregação panfletária.
A identidade fluida permite as interconexões, ligadas por objetivos semelhantes e causas com baixo grau de identificação popular, que pedem o anonimato e exige atuação perversa e fugaz, possibilitando ao adepto ser monarquista, integrar uma organização ultraconservadora, gestionar em nome do bispo – igualmente pálido – de uma arquidiocese e liderar uma cruzada pré-moderna, baseada em pureza moral e reduzindo a campanha a um tema, sem perder o estilo caricatural.
A central de calúnias e difamações reuniu gente com este perfil, retroalimentou radicais afeitos às sombras, reuniu viúvas de ‘endireitados’ de todos os matizes, financiados pelas elites econômicas, descendentes dos que mantiveram a escravidão por quase quatro séculos, lucraram com regimes ditatoriais, projetaram jornalistas de traço lacerdiano, de moral ‘tradicional’ e disposição para tratos de botequim.
Integrantes do submundo açambarcaram a influência do nome de instituições confiáveis, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e continuaram difundindo o panfleto em seu nome, mesmo depois do protesto público, em vídeos e mensagens eletrônicas, impressos e reverberados, após ser desmascarado como simulacro de documento da igreja.
Numa campanha de segundo turno, surgida da aposta na terceira colocada para projetar o segundo, obtida com a falta de apenas 3,1% de votos e enevoada por temas esdrúxulos como o aborto, escândalos republicados pelo comando editorial, e debates políticos que poderiam ser censurados a jovens de 16 anos, pelo grau de violência explícita. A tal ponto que o líder luterano Walter Altmann denunciou a demonização “das acusações oportunistas ou temáticas diversionistas” e o teólogo católico Leonardo Boff referiu-se “à guerra santa como estratégia para evitar a discussão sobre o Brasil”.
No entanto, algo positivo também se mostrou. Diferente de outros tempos, a população mais simples demonstrou – “como nunca antes na história desse país”, para lembrar frase célebre – uma perturbadora tranquilidade, clareza de objetivo e, até então, incrível capacidade de resistir às provocações. Um desaforo às elites e seus desgovernos. Um acinte, só possível a quem teve um governo que o tratou com algum respeito. Ao que parece, essa gente simples e trabalhadora aprendeu a resistir. Somou à consciência, consistência. Aprendeu a discordar dos grandes poderes. Por isso, a reação é irascível.
Fonte: Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 28 de outubro de 2010
A três dias das eleições presidenciais, em caráter plebiscitário, a opinião pública defronta-se com o acirramento da confusão generalizada, dos discursos ameaçadores, da mordacidade irracional – ainda mais assustadora na boca de jornalistas televisivos – intensificada com a teimosa normalidade democrática, com as notícias atemorizadoras que não se concretizam. E nem são desmentidas. Também não se espera que todos creiam em tudo que está publicado, especialmente nos grandes veículos de comunicação. A intenção deliberada é que o leitor sinta-se horrorizado, desanime da esperança depositada num regime democrático, ceda ao clima de terror criado e financiado pelos centros de poder econômico. E, alcançada certa eficiência, embarque na central de boatos, rendendo-se ao caos pretendido.
A confusão reinante é resultado de uma estratégia, única alternativa à democracia que resiste, não se instabiliza com as chamadas dos jornais e nem se assusta com as ameaças. Para que alcançasse essa eficiência, a campanha recebeu muitas doações, foi organizada com apoios financeiros e políticos, estruturou-se com acesso direto à grande mídia, que refundiu informações desencontradas e simulou uma ordem. Perversa.
O nicho inicial integra ressentidos, conservadores, moralistas, fundamentalistas e capazes de ações extremas como a Tradição, Família e Propriedade (TFP), a organização católica tradicionalista, conservadora, reacionária e anticomunista.
À TFP somaram-se monarquistas, saudosistas que veem a democracia como a deturpação do império que cedeu espaço à República há mais de 120 anos, sob a influência dos integralistas, um partido político de classe média e inspirado no fascismo italiano, os camisas verdes, e a ala ultraconservadora da Igreja Católica paulista.
Com traços ideológicos semelhantes e métodos parecidos, essa conjunção de forças tem atuado num esquema de difamação e distribuição de informações falsas nos subterrâneos da campanha presidencial. Com um discurso que confronta o pluralismo, espaço cada vez mais reduzido nos regimes democráticos e índices de rejeição que crescem com a melhoria das condições de vida, esses grupos minúsculos e bem articulados encontraram na internet um meio de acesso a grandes contingentes, com livre atuação e anonimato, necessário à pregação panfletária.
A identidade fluida permite as interconexões, ligadas por objetivos semelhantes e causas com baixo grau de identificação popular, que pedem o anonimato e exige atuação perversa e fugaz, possibilitando ao adepto ser monarquista, integrar uma organização ultraconservadora, gestionar em nome do bispo – igualmente pálido – de uma arquidiocese e liderar uma cruzada pré-moderna, baseada em pureza moral e reduzindo a campanha a um tema, sem perder o estilo caricatural.
A central de calúnias e difamações reuniu gente com este perfil, retroalimentou radicais afeitos às sombras, reuniu viúvas de ‘endireitados’ de todos os matizes, financiados pelas elites econômicas, descendentes dos que mantiveram a escravidão por quase quatro séculos, lucraram com regimes ditatoriais, projetaram jornalistas de traço lacerdiano, de moral ‘tradicional’ e disposição para tratos de botequim.
Integrantes do submundo açambarcaram a influência do nome de instituições confiáveis, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e continuaram difundindo o panfleto em seu nome, mesmo depois do protesto público, em vídeos e mensagens eletrônicas, impressos e reverberados, após ser desmascarado como simulacro de documento da igreja.
Numa campanha de segundo turno, surgida da aposta na terceira colocada para projetar o segundo, obtida com a falta de apenas 3,1% de votos e enevoada por temas esdrúxulos como o aborto, escândalos republicados pelo comando editorial, e debates políticos que poderiam ser censurados a jovens de 16 anos, pelo grau de violência explícita. A tal ponto que o líder luterano Walter Altmann denunciou a demonização “das acusações oportunistas ou temáticas diversionistas” e o teólogo católico Leonardo Boff referiu-se “à guerra santa como estratégia para evitar a discussão sobre o Brasil”.
No entanto, algo positivo também se mostrou. Diferente de outros tempos, a população mais simples demonstrou – “como nunca antes na história desse país”, para lembrar frase célebre – uma perturbadora tranquilidade, clareza de objetivo e, até então, incrível capacidade de resistir às provocações. Um desaforo às elites e seus desgovernos. Um acinte, só possível a quem teve um governo que o tratou com algum respeito. Ao que parece, essa gente simples e trabalhadora aprendeu a resistir. Somou à consciência, consistência. Aprendeu a discordar dos grandes poderes. Por isso, a reação é irascível.
Fonte: Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 28 de outubro de 2010
Michel Temer é Satanista?
Por Mariel M. Marra
Quem é Michel Temer?
Michel Miguel Elias Temer Lulia nasceu em Tietê (SP), no dia 23 de setembro de 1940. Sua família, católica, imigrou de Betabura, na região de El Koura, Norte do Líbano, em 1925. Temer é formado em Direito pela tradicional Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Doutorou-se pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e dirigiu o curso de pós-graduação da Faculdade de Direito da PUC-SP.
Iniciou a carreira política como oficial de gabinete de seu ex-professor Ataliba Nogueira, secretário de Educação de Adhemar de Barros. Michel Temer foi procurador-geral do Estado em 1983 e deixou o cargo para ser secretário de Segurança Pública de São Paulo.
Elegeu-se deputado constituinte pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e participou ativamente da Assembléia Nacional Constituinte, tendo se destacado pela posição moderada, sóbria e pelo grande conhecimento de direito constitucional. Após a Constituinte, foi reeleito deputado federal e já exerce o seu sexto mandato – todos pelo PMDB.
Foi escolhido três vezes presidente da Câmara dos Deputados, em 1997, 1999 e 2009 e em 2010 Michel Temer lançou-se como candidato a Vice-Presidente na chapa de Dilma.
Suposta ligação com o Satanismo
Na edição 34 (Julho/2009) da Revista Rolling Stone Brasil, Temer foi entrevistado como sendo o possível vice da Dilma e por fim respondeu a seguinte pergunta: “Há sites evangélicos que afirmam que o senhor é satanista. Tem conhecimento disso? Sim, tenho conhecimento. Falei com vários evangélicos. Eles acham uma loucura. Na internet dizem que sou filho de Satã, que me filiei a uma corrente satanista. Deve ser coisa de algum inimigo meu.”
Parte desse rumor deve-se a um e-mail de origem desconhecida que circulou na internet em Março de 2009 dizendo que Neuza Itioka, líder evangélica do Ministério Ágape Reconciliação, conhecida por ministrar seminários de Batalha Espiritual no meio evangélico brasileiro, estava sendo ameaçada por Michel Temer; Nesse e-mail encontra-se a afirmação que Michel Temer juntamente com Sarney, Dantas, Dirceu e até Kassab são satanistas, sendo dito também que Michel Temer seria o pai de Daniel Mastral, o polêmico escritor de livros evangélicos e suposto ex-satanista de uma poderosíssima organização satânica secreta, chamada de Irmandade.
Sabe-se entretanto que logo após a circulação desse e-mail entre os evangélicos, a autoria dele e seu conteúdo foi negado pelo Ministério Ágape Reconciliação, o qual em nota divulgada em seu site oficial disse se tratar de boato usando o nome da Dra. Neuza Itioka. Infelizmente essa nota já foi retirada do site, contudo ainda é possível encontrar no Google um vestígio dela.
Neuza Itioka e Daniel Mastral possuem desde 1998 uma relação de afinidade, uma vez que foi ela quem o apresentou como sendo ex-satanista de uma poderosíssima organização satânica. Entretanto sabe-se que ultimamente ela não presta mais apoio ao ministério do Mastral.
O real motivo para tal separação ministerial entre eles não se sabe oficialmente, pois ambas as partes preferem se silenciar sobre o caso, contudo de fato Mastral não conta mais com o apoio ministerial de Neuza Itioka e não se nota mais entre eles aquela indicação recíproca que havia antes.
Isso não quer dizer que são inimigos e que agora se odeiam. De forma alguma, mas isso também não é sem razão. Daniel Mastral, cujo nome real é Marcelo Agostinho Ferreira, tem sido questionado pela Igreja quanto a veracidade do seu testemunho publicado em seus livros.
A exemplo de Davi Silva, ex-vocalista do Ministério Casa de Davi, que criou, se apropriou e mentiu a respeito do seu testemunho de vida e recentemente veio a público para pedir perdão, suspeita-se também que os livros de Daniel Mastral sejam uma mistura de ficção com realidade.
Para fundamentar tais suspeitas, algumas pessoas que conhecem de perto tudo isso, elas prestaram depoimento público no site de relacionamentos Orkut, sendo isso do conhecimento de todos que acompanham tais comunidades.
Para aqueles que possuem acesso a este site de relacionamentos orkut, ali poderão conhecer o testemunho da “Camila”, a ex-noiva do Mastral, citada com este pseudônimo por Mastral em seus livros.
Eu, juntamente com mais duas pessoas, a conhecemos pessoalmente em julho/2009, no Anhagabaú em SP. E segundo ela publicou no orkut e nos relatou pessoalmente, Mastral é filho do mesmo pai que seus outros irmãos, o sr. Laércio Bastos Ferreira (in memorian).
“Camila”, que possui ainda contato com a mãe do Mastral, a sra. Regina Agostinho Ferreira, ela diz que segundo a própria mãe dele, trata-se de um completo absurdo o filho publicar um livro dizendo que ela adulterou e que para piorar isso aconteceu com um satanista.
De acordo com “Camila”, a mãe do Mastral não entende porque o filho está fazendo isso com ela, sendo que desde a publicação desses livros ela deixou a igreja por vergonha e atualmente faz tratamento psicológico.
Desse modo presumi-se ser inverdade a afirmação que Mastral faz a respeito de sua paternidade advir de um suposto satanista na política, que no livro ganha o pseudônimo de “Marlon”; Sendo que nesse caso compete ao Mastral provar suas afirmações contra sua mãe demonstrando que verdadeiramente não é filho do mesmo pai que seus irmãos. E isso pode ser feito atualmente por meio de exame de DNA, onde o pai é falecido ou ausente, sem a necessidade de exumação de cadáveres.
É verdade que Mastral não apresenta nomes reais, nem tão pouco afirma ser Michel Temer seu pai biológico fruto do suposto adultério de sua mãe, mas valendo-se de uma certa semelhança física e também que em nos seminários do Mastral ele chega a dizer que o símbolo do partido político do “Marlon” apresenta um foguinho (símbolo do PMDB) e que o mesmo faz aniversário no final de Setembro, que é uma data importante para os satanistas (23/09), tudo isso então induz e leva as pessoas a concluírem por conta própria que o suposto pai satanista de Daniel Mastral se trata de Michel Temer.
É preciso dizer com toda honestidade que até o momento não existe materialidade para afirmar que Michel Temer é satanista, exceto tudo isso que ora apresentei.
É verdade que Temer tem sido citado como sendo membro da Maçonaria, contudo é bastante temerário afirmar que o mesmo seja satanista e muito menos fazer isso baseando-se num escritor que afirma ser filho de um satanista político, faz isso sem apresentar prova concreta alguma de suas afirmações, entrando inclusive em contradição com sua mãe; E também não é possível dizer que Temer seja satanista baseando-se num e-mail que foi classificado como boato pelo próprio Ministério Ágape Reconciliação de Neuza Itioka que disse ter seu nome envolvido indevidamente.
Conclusão
Quero deixar claro que diante dos fatos noticiados cada um deve tirar sua própria conclusão e eu não tenho por objetivo propor voto em Dilma, nem tão pouco ser o advogado de Michel Temer, até mesmo porque não possuo sua procuração pra isso; Ademais ele é doutor na área e bem pode fazer isso sozinho sem precisar da ajuda de um teólogo e simples bacharelando em Direito.
Outrossim é importante também dizer que devemos ter muito cuidado com os discursos religiosos que tentam legitimar ideologias e convicções políticas. Aproveito e trago a memória de todos o discurso religioso dos grandes evangelistas na época da guerra fria no final do Sec. XX, os quais afirmavam categoricamente que o comunismo era do diabo e que comunistas comiam criancinhas. Muitos usam a religião para justificar ideologias políticas.
No Brasil vivemos um Estado Democrático de Direito e pela Graça de Deus temos condições de votar e eleger diretamente nossos políticos; Logo vamos fazer isso sem ceder a pressão de discursos religiosos de líderes que acabam pintando uns como “diabólicos” para que outros sejam vistos como “guerreiros da luz” e assim sejam eleitos pelos evangélicos.
Sob pretexto algum vamos permitir que a Igreja seja usada como curral eleitoral. Não somos massa de manobra!
Quero também lembra-los que infelizmente ainda circula na internet um outro e-mail boato dizendo que no Congresso Nacional tramitam leis contra a liberdade religiosa Igreja. Saibam que o conteúdo deste e-mail é mentiroso e absurdo. Eu mesmo pesquisei e a maioria dos supostos projetos de leis que dizem estar tramitando não existe, outros não tratam do que dizem estar tratando.
Portanto isso sim que é coisa de satanista, afinal o pai da mentira é satanás e quem a usa torna-se filho dele! Isso sim deve ser repudiado pela Igreja, afinal nada justifica o uso da mentira entre cristãos e filhos de Deus. Nem mesmo quando os objetivos são nobres, justos e plausíveis.
Saibam todos que Deus é Deus e que satanista algum tem autoridade se do alto não lhe for concedida. Ademais, as escrituras vão se cumprir e o relógio de Deus não será atrasado por mais que a igreja pense estar oferecendo resistência para a vinda do filho da perdição. O dia e a hora somente Ele sabe, mas a verdade é que tudo já está marcado na agenda de Deus e que ninguém mudará isso.
Sendo assim, recomendo a todos que façam aquilo que Ele nos ordenou. Preguem o evangelho a toda criatura, afinal esta sim é a sua missão.
Oro para que nesse tempo haja clara separação entre luz e trevas, entre aquele que serve a Deus e aquele que não serve a Deus, pois não acredito que alguém possa servir a Deus por meio da mentira e meias verdades manipuladoras, as quais estão sendo legitimadas através de discursos falsos que colocam o objetivo do pecado como sendo a salvação das pessoas!
A pessoa pode ganhar o mundo inteiro e perder a própria alma, afinal as pessoas são salvas tão somente pela Graça, que é o favor imerecido de Deus, onde não quer dizer que Ele esteja aprovando o uso da mentira. Em hipótese alguma Deus aprova a mentira, mesmo que ela seja utilizada para atrair pessoas para Cristo ou tomarem uma atitude supostamente correta, tal como votar neste ou naquele político de Deus.
Volto a repetir que nada, absolutamente nada explica, justifica ou legitima o uso da mentira!Portanto se alguém é satanista, então que isso seja exposto com base em fatos reais. Se alguém merece ser eleito nessas eleições, então que seja eleito com base em sua capacidade político-administrativa e não porque é um “irmão ou irmã” ou porque foi “profetizado” sobre ele. Igreja não é curral eleitoral! Lembre-se disso!
Mariel M. Marra é formando pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, crítico da Literatura Evangélica e colaborador do Portal Lagoinha.com. Fonte: Blog Ponto Crítico - http://guerreirosdaluz.com.br/2010/07/01/michel-temer-e-satanista/
Michel Temer é satanista? Muitos atualmente fazem esta pergunta. Tanto que até o Google já faz a associação do seu nome com a palavra satanismo quando você procura informações sobre ele. Porém acompanhe neste artigo informações sobre onde, como e porque surgiu isto e assim tire suas próprias conclusões diante dos fatos.
Quem é Michel Temer?
Michel Miguel Elias Temer Lulia nasceu em Tietê (SP), no dia 23 de setembro de 1940. Sua família, católica, imigrou de Betabura, na região de El Koura, Norte do Líbano, em 1925. Temer é formado em Direito pela tradicional Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Doutorou-se pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e dirigiu o curso de pós-graduação da Faculdade de Direito da PUC-SP.
Iniciou a carreira política como oficial de gabinete de seu ex-professor Ataliba Nogueira, secretário de Educação de Adhemar de Barros. Michel Temer foi procurador-geral do Estado em 1983 e deixou o cargo para ser secretário de Segurança Pública de São Paulo.
Elegeu-se deputado constituinte pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e participou ativamente da Assembléia Nacional Constituinte, tendo se destacado pela posição moderada, sóbria e pelo grande conhecimento de direito constitucional. Após a Constituinte, foi reeleito deputado federal e já exerce o seu sexto mandato – todos pelo PMDB.
Foi escolhido três vezes presidente da Câmara dos Deputados, em 1997, 1999 e 2009 e em 2010 Michel Temer lançou-se como candidato a Vice-Presidente na chapa de Dilma.
Suposta ligação com o Satanismo
Na edição 34 (Julho/2009) da Revista Rolling Stone Brasil, Temer foi entrevistado como sendo o possível vice da Dilma e por fim respondeu a seguinte pergunta: “Há sites evangélicos que afirmam que o senhor é satanista. Tem conhecimento disso? Sim, tenho conhecimento. Falei com vários evangélicos. Eles acham uma loucura. Na internet dizem que sou filho de Satã, que me filiei a uma corrente satanista. Deve ser coisa de algum inimigo meu.”
Parte desse rumor deve-se a um e-mail de origem desconhecida que circulou na internet em Março de 2009 dizendo que Neuza Itioka, líder evangélica do Ministério Ágape Reconciliação, conhecida por ministrar seminários de Batalha Espiritual no meio evangélico brasileiro, estava sendo ameaçada por Michel Temer; Nesse e-mail encontra-se a afirmação que Michel Temer juntamente com Sarney, Dantas, Dirceu e até Kassab são satanistas, sendo dito também que Michel Temer seria o pai de Daniel Mastral, o polêmico escritor de livros evangélicos e suposto ex-satanista de uma poderosíssima organização satânica secreta, chamada de Irmandade.
Sabe-se entretanto que logo após a circulação desse e-mail entre os evangélicos, a autoria dele e seu conteúdo foi negado pelo Ministério Ágape Reconciliação, o qual em nota divulgada em seu site oficial disse se tratar de boato usando o nome da Dra. Neuza Itioka. Infelizmente essa nota já foi retirada do site, contudo ainda é possível encontrar no Google um vestígio dela.
Neuza Itioka e Daniel Mastral possuem desde 1998 uma relação de afinidade, uma vez que foi ela quem o apresentou como sendo ex-satanista de uma poderosíssima organização satânica. Entretanto sabe-se que ultimamente ela não presta mais apoio ao ministério do Mastral.
O real motivo para tal separação ministerial entre eles não se sabe oficialmente, pois ambas as partes preferem se silenciar sobre o caso, contudo de fato Mastral não conta mais com o apoio ministerial de Neuza Itioka e não se nota mais entre eles aquela indicação recíproca que havia antes.
Isso não quer dizer que são inimigos e que agora se odeiam. De forma alguma, mas isso também não é sem razão. Daniel Mastral, cujo nome real é Marcelo Agostinho Ferreira, tem sido questionado pela Igreja quanto a veracidade do seu testemunho publicado em seus livros.
A exemplo de Davi Silva, ex-vocalista do Ministério Casa de Davi, que criou, se apropriou e mentiu a respeito do seu testemunho de vida e recentemente veio a público para pedir perdão, suspeita-se também que os livros de Daniel Mastral sejam uma mistura de ficção com realidade.
Para fundamentar tais suspeitas, algumas pessoas que conhecem de perto tudo isso, elas prestaram depoimento público no site de relacionamentos Orkut, sendo isso do conhecimento de todos que acompanham tais comunidades.
Para aqueles que possuem acesso a este site de relacionamentos orkut, ali poderão conhecer o testemunho da “Camila”, a ex-noiva do Mastral, citada com este pseudônimo por Mastral em seus livros.
Eu, juntamente com mais duas pessoas, a conhecemos pessoalmente em julho/2009, no Anhagabaú em SP. E segundo ela publicou no orkut e nos relatou pessoalmente, Mastral é filho do mesmo pai que seus outros irmãos, o sr. Laércio Bastos Ferreira (in memorian).
“Camila”, que possui ainda contato com a mãe do Mastral, a sra. Regina Agostinho Ferreira, ela diz que segundo a própria mãe dele, trata-se de um completo absurdo o filho publicar um livro dizendo que ela adulterou e que para piorar isso aconteceu com um satanista.
De acordo com “Camila”, a mãe do Mastral não entende porque o filho está fazendo isso com ela, sendo que desde a publicação desses livros ela deixou a igreja por vergonha e atualmente faz tratamento psicológico.
Desse modo presumi-se ser inverdade a afirmação que Mastral faz a respeito de sua paternidade advir de um suposto satanista na política, que no livro ganha o pseudônimo de “Marlon”; Sendo que nesse caso compete ao Mastral provar suas afirmações contra sua mãe demonstrando que verdadeiramente não é filho do mesmo pai que seus irmãos. E isso pode ser feito atualmente por meio de exame de DNA, onde o pai é falecido ou ausente, sem a necessidade de exumação de cadáveres.
É verdade que Mastral não apresenta nomes reais, nem tão pouco afirma ser Michel Temer seu pai biológico fruto do suposto adultério de sua mãe, mas valendo-se de uma certa semelhança física e também que em nos seminários do Mastral ele chega a dizer que o símbolo do partido político do “Marlon” apresenta um foguinho (símbolo do PMDB) e que o mesmo faz aniversário no final de Setembro, que é uma data importante para os satanistas (23/09), tudo isso então induz e leva as pessoas a concluírem por conta própria que o suposto pai satanista de Daniel Mastral se trata de Michel Temer.
É preciso dizer com toda honestidade que até o momento não existe materialidade para afirmar que Michel Temer é satanista, exceto tudo isso que ora apresentei.
É verdade que Temer tem sido citado como sendo membro da Maçonaria, contudo é bastante temerário afirmar que o mesmo seja satanista e muito menos fazer isso baseando-se num escritor que afirma ser filho de um satanista político, faz isso sem apresentar prova concreta alguma de suas afirmações, entrando inclusive em contradição com sua mãe; E também não é possível dizer que Temer seja satanista baseando-se num e-mail que foi classificado como boato pelo próprio Ministério Ágape Reconciliação de Neuza Itioka que disse ter seu nome envolvido indevidamente.
Conclusão
Quero deixar claro que diante dos fatos noticiados cada um deve tirar sua própria conclusão e eu não tenho por objetivo propor voto em Dilma, nem tão pouco ser o advogado de Michel Temer, até mesmo porque não possuo sua procuração pra isso; Ademais ele é doutor na área e bem pode fazer isso sozinho sem precisar da ajuda de um teólogo e simples bacharelando em Direito.
Outrossim é importante também dizer que devemos ter muito cuidado com os discursos religiosos que tentam legitimar ideologias e convicções políticas. Aproveito e trago a memória de todos o discurso religioso dos grandes evangelistas na época da guerra fria no final do Sec. XX, os quais afirmavam categoricamente que o comunismo era do diabo e que comunistas comiam criancinhas. Muitos usam a religião para justificar ideologias políticas.
No Brasil vivemos um Estado Democrático de Direito e pela Graça de Deus temos condições de votar e eleger diretamente nossos políticos; Logo vamos fazer isso sem ceder a pressão de discursos religiosos de líderes que acabam pintando uns como “diabólicos” para que outros sejam vistos como “guerreiros da luz” e assim sejam eleitos pelos evangélicos.
Sob pretexto algum vamos permitir que a Igreja seja usada como curral eleitoral. Não somos massa de manobra!
Quero também lembra-los que infelizmente ainda circula na internet um outro e-mail boato dizendo que no Congresso Nacional tramitam leis contra a liberdade religiosa Igreja. Saibam que o conteúdo deste e-mail é mentiroso e absurdo. Eu mesmo pesquisei e a maioria dos supostos projetos de leis que dizem estar tramitando não existe, outros não tratam do que dizem estar tratando.
Portanto isso sim que é coisa de satanista, afinal o pai da mentira é satanás e quem a usa torna-se filho dele! Isso sim deve ser repudiado pela Igreja, afinal nada justifica o uso da mentira entre cristãos e filhos de Deus. Nem mesmo quando os objetivos são nobres, justos e plausíveis.
Saibam todos que Deus é Deus e que satanista algum tem autoridade se do alto não lhe for concedida. Ademais, as escrituras vão se cumprir e o relógio de Deus não será atrasado por mais que a igreja pense estar oferecendo resistência para a vinda do filho da perdição. O dia e a hora somente Ele sabe, mas a verdade é que tudo já está marcado na agenda de Deus e que ninguém mudará isso.
Sendo assim, recomendo a todos que façam aquilo que Ele nos ordenou. Preguem o evangelho a toda criatura, afinal esta sim é a sua missão.
Oro para que nesse tempo haja clara separação entre luz e trevas, entre aquele que serve a Deus e aquele que não serve a Deus, pois não acredito que alguém possa servir a Deus por meio da mentira e meias verdades manipuladoras, as quais estão sendo legitimadas através de discursos falsos que colocam o objetivo do pecado como sendo a salvação das pessoas!
A pessoa pode ganhar o mundo inteiro e perder a própria alma, afinal as pessoas são salvas tão somente pela Graça, que é o favor imerecido de Deus, onde não quer dizer que Ele esteja aprovando o uso da mentira. Em hipótese alguma Deus aprova a mentira, mesmo que ela seja utilizada para atrair pessoas para Cristo ou tomarem uma atitude supostamente correta, tal como votar neste ou naquele político de Deus.
Volto a repetir que nada, absolutamente nada explica, justifica ou legitima o uso da mentira!Portanto se alguém é satanista, então que isso seja exposto com base em fatos reais. Se alguém merece ser eleito nessas eleições, então que seja eleito com base em sua capacidade político-administrativa e não porque é um “irmão ou irmã” ou porque foi “profetizado” sobre ele. Igreja não é curral eleitoral! Lembre-se disso!
Mariel M. Marra é formando pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, crítico da Literatura Evangélica e colaborador do Portal Lagoinha.com. Fonte: Blog Ponto Crítico - http://guerreirosdaluz.com.br/2010/07/01/michel-temer-e-satanista/
Os santinhos de uma guerra suja
A poucos dias da eleição, a campanha de José Serra se aproxima de grupos ultraconservadores e reforça a tática do ódio religioso. O oportunismo político divide a Igreja e vira caso de polícia
Por Alan Rodrigues e Bruna Cavalcanti"Eu gostaria de chamar a atenção para este papel que estão distribuindo na igreja. Acusam a candidata do PT, em nome da Igreja. Não é verdade. Isso não é jeito de fazer política. A Igreja não está autorizando essas coisas. Isso não é postura de cristão". Cara a cara com José Serra e sua equipe de campanha, frei Francisco Gonçalves de Souza passou-lhes um pito. O religioso comandava a missa em homenagem a São Francisco, no sábado 16, em Canindé, no sertão cearense. Meia hora após o início do culto, Serra tinha chegado à basílica, onde se espremiam cerca de 30 mil devotos, atraídos à cidade para uma tradicional romaria. O candidato tucano, acompanhado do senador Tasso Jereissati e de outros correligionários, estava em campanha. Em tese, aquele seria um palanque perfeito para alguém que, como Serra, tem peregrinado por templos religiosos se anunciando como um cristão fervoroso. Enquanto ele assistia à missa, barulhentos cabos eleitorais distribuíam panfletos. Os papéis acusavam Dilma Rousseff de defender "terroristas", o "aborto" e a "corrupção". Frei Francisco resolveu reagir ao circo e, então, o que era para ser uma peça publicitária do PSDB transformou-se num enorme vexame. Sob aplausos dos fiéis, o franciscano pediu que Serra e Jereissatti não atrapalhassem a cerimônia e que se retirassem, se não estavam ali para rezar. Jereissatti, descontrolado, passou a gritar que o padre era um petista e tentou subir no altar. As cenas gravadas pelas equipes de tevê de Serra jamais seriam usadas na campanha.
A saia-justa em Canindé foi apenas o primeiro sinal de que a estratégia tucana de apelar a preconceitos religiosos e difamação estava começando a dar errado. Um dia depois, no domingo 17, no bairro do Cambuci, região central de São Paulo, a Polícia Federal apreendia dois milhões de panfletos anti-Dilma numa gráfica pertencente à irmã e ao sobrinho de Sérgio Kobayashi, um dos mais influentes coordenadores da campanha do PSDB. A partir daí, pouco a pouco, vinha a público a armação de uma guerra suja comandada pela central de boatos instalada no comitê central de Serra. É a maior campanha de mentiras já montada em uma eleição. Os panfletos apreendidos evidenciavam que os tucanos montaram um bureau especializado em divulgar difamações, reunindo profissionais da mentira com a tarefa de espalharem boatos envolvendo principalmente sexo e aborto. Com tentáculos no submundo da campanha eleitoral, este aparelho utiliza-se de setores radicais geralmente afeitos à sombra da atividade política institucional: integralistas, monarquistas da direita extremada e setores ultraconservadores da Igreja (leia quadros acima e ao lado). Ao contrário do que pressupõe a biografia oficial de Serra, esses fatos demonstram que para tentar vencer a eleição o ex-governador paulista fez parceria até com grupos que sempre estiveram ao lado do autoritarismo.
A ordem para encomendar o material à gráfica ligada aos tucanos partiu de dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo da Diocese de Guarulhos, na Grande São Paulo. Ele é antigo conhecido do PSDB, amigo declarado de seu conterrâneo Sidney Beraldo, deputado estadual pelo partido e um dos coordenadores da campanha de Serra em São Paulo. Nas conversas de sacristia, dom Luiz tem fama de ser um homem "maquiavélico" e "implacável". Padres o descreveram à ISTOÉ como alguém que não aceita opiniões divergentes e já criou situações embaraçosas para constranger e afastar subordinados que questionam seu radicalismo. Para fazer os contatos com a gráfica dos Kobayashi, dom Luiz contou com a ajuda do ex-seminarista Kelmon Luís da Silva Souza. Frequentador da Catedral Metropolitana Ortodoxa, na zona sul de São Paulo, Souza também é presidente da Associação Theotokos, um grupo católico ultratradicionalista, e membro do autodenominado Partido Monarquista Brasileiro. Em 2006, um dos parceiros do ex-seminarista que atua numa organização integralista (leia quadro abaixo) doou R$ 3,5 mil para a campanha do deputado federal Índio da Costa, candidato a vice-presidente na chapa de Serra. Quando a atuação de Souza e dom Luiz tornou-se pública, os dois se enclausuraram. Nos próximos dias, no entanto, terão de prestar depoimento à Polícia Federal, investigados por crime eleitoral, calúnia e difamação.
A distribuição de panfletos caluniosos em paróquias que estão sob a jurisdição de outros bispos provocou um racha na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. "O embate ideológico que existiu nos primeiros anos da CNBB, mas estava ausente nas últimas décadas, ameaça voltar após as eleições", avalia dom Pedro Luiz Stringhini, bispo de Franca. Fiéis não param de telefonar e mandar e-mails para a Cúria Diocesana de Guarulhos condenando o comportamento de dom Luiz. Eles questionam: se os cofres da igreja estão quase vazios, com que dinheiro o bispo vai pagar a encomenda dos panfletos que beneficiam Serra? "Na segunda-feira, recebi uma ligação de dom Luiz pedindo desculpas pelos transtornos", contou à ISTOÉ Paulo Ogawa, administrador da gráfica que trabalha para o PSDB. "O Kelmon também telefonou", disse ele. "Garantiu que eu não ficaria no prejuízo e que a fatura do material apreendido pela PF, no valor de R$ 30 mil, poderia ser enviada porque a igreja iria pagar."
As acusações contra Dilma que aparecem nestes panfletos são idênticas às divulgadas pela central de boatos dos tucanos na internet. No bureau de difamação instalado no QG tucano trabalham 30 "troleiros", como são chamados os militantes que rastreiam e espalham pelas redes de computadores propagandas negativas e calúnias sobre a candidata do PT. O comitê da campanha de Serra ocupa quatro andares do antigo Edifício Joelma, no centro de São Paulo. No térreo fica o chamado baixo clero, que recebe informações de militantes que estão nas ruas e busca cooptar lideranças de diversos segmentos, como o dos religiosos. É ali que trabalham operadores como o pastor Alcides Cantóia Jr. Ele coordena com afinco o grupo dos evangélicos que, entre seus trunfos, se orgulha de ter conseguido a adesão do pastor Silas Malafaia, do Rio de Janeiro, estrela de um dos vídeos mais ferinos contra Dilma. Na última semana, o grupo foi encarregado de oferecer benefícios financeiros às igrejas e seus projetos sociais, uma forma de compra de votos que deverá ser investigada pelo Ministério Público Eleitoral. O cérebro do bureau fica no 20º andar do Joelma, ninho dos tucanos mais poderosos. A avalanche de baixarias que eles produzem é tão intensa que o PT já recebeu mais de cinco mil denúncias sobre mensagens e vídeos ofensivos à candidata petista. Apesar de toda essa estrutura, o presidenciável Serra procura se apresentar como vítima e cinicamente afirma que foi o PT que colocou o debate sobre o aborto na pauta eleitoral. Não foi (leia reportagem acima).
Para combater a disseminação de calúnias, a coordenação da campanha de Dilma criou, na semana passada, uma espécie de disque-denúncia em 59 cidades brasileiras. "Há indícios veementes de que os panfletos apreendidos pela PF foram produzidos pela campanha de nosso adversário", disse o deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP). "A despesa é por conta da diocese de Guarulhos, que tem pleno direito a manifestar-se sobre questões que considera relevantes", retrucou Serra. A alegação do tucano não é verdadeira, como explica o advogado Eduardo Nobre, especialista em direito eleitoral: "Entidade religiosa não pode fazer doações para candidatos ou partidos políticos. Os bispos que assinaram o manifesto podem ser processados por calúnia e difamação e ser obrigados a pagar multa".
A campanha eleitoral rasteira deste ano é um marco na história do País. A onda de mensagens preconceituosas pulverizada na internet pelos grupos ultraconservadores agora aliados dos tucanos debocha do poder de dicernimento do eleitorado. Recorrendo a artimanhas subterrâneas, foge ao debate de questões vitais para o avanço do Brasil. O volume e a rapidez de propagação de falsidades são inéditos. E não há dúvida de onde partem: após o primeiro turno, numa reunião da cúpula tucana em Brasília, foi distribuído um panfleto com instruções de como propagar uma campanha anti-Dilma na internet. Num dos trechos, há recomendação para que militantes visitem o site do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, um dos fundadores da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade), um dos grupos mais arraigados ao conservadorismo no País.
Apostando no peso do voto religioso, a central de boatos de Serra parece usar métodos da inquisição e fazer campanha para a sucessão de Bento XVI e não de Lula. Uma das providências desses militantes tucanos foi distribuir "santinhos" com a foto e a assinatura de Serra, junto à inscrição "Jesus é a verdade e a justiça". Panfletos como este, porém, acabaram irritando muitos católicos. Menos de uma semana depois do vexame de Canindé, o evidente uso e abuso tucano de armações com radicais de ultradireita já dava sinais de fadiga. As feitiçarias e os supostos pecados começavam a recair sobre quem se esmerou em propagá-los. "A Igreja não tem a tutela nem a missão de dominar a consciência política do povo", disse padre Júlio Lancellotti, na terça-feira 19, durante um ato de apoio de juristas e intelectuais à candidata petista. O religioso e escritor Frei Betto fez coro: "Bispos panfletários não falam em nome da Igreja nem da CNBB. É opinião pessoal, só que injuriosa, mentirosa e difamatória".
Colaborou Francisco Alves Filho
Fonte: IstoÉ Independente, n° 2137, 22.Out.10 - http://www.istoe.com.br/reportagens/107353_OS+SANTINHOS+DE+UMA+GUERRA+SUJA+PARTE+1; http://www.istoe.com.br/reportagens/107374_OS+SANTINHOS+DE+UMA+GUERRA+SUJA+PARTE+2
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
A religião e as eleições: Um debate medieval. Entrevista com Moisés Sbardelotto
Por IHU
Moisés Sbardelotto é mestrando em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, na linha de pesquisa Midiatização e Processos Sociais. Possui graduação em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, 2006). Atualmente, é coordenador adjunto do Escritório da Fundação Ética Mundial no Brasil, com sede no Instituto Humanitas Unisinos - IHU, em São Leopoldo.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Como você vê a dimensão que a religião está tomando nesse debate para o segundo turno?
Moisés Sbardelotto - Por um lado, considero importante que a religião tenha entrado mais fortemente no debate político. Em uma democracia, especialmente em um período de discussão nacional como o processo eleitoral, é relevante que os diversos setores e atores sociais tenham espaço para propor suas ideias e suas pautas próprias. Mas não acredito que essa tenha sido a "pauta definidora" do segundo turno. As últimas pesquisas revelam que os eleitores "religiosos" (cristãos evangélicos) votaramem Dilma Rousseff no primeiro turno, na grande maioria do país. Portanto, a religião é relevante, mas não definidora. Ao lado da religião, considero que a questão ambiental também foi um salto positivo e direcionador no debate de 2010.
Porém, por outro lado, pode-se questionar: de que religião estamos falando ao discorrer sobre religião? Pelo que pude observar, estamos falando apenas de setores específicos das Igrejas cristãs, especialmente das evangélicas, neopentecostais e católica. A pauta das religiões de matriz africana, por exemplo, foi debatida ou ao menos ouvida? Por enquanto, não se tem notícia de quais sejam as suas reivindicações ou opiniões a respeito das propostas de governo – mas, obviamente, elas existem.
Isso está ligado, além disso, a um processo comunicacional atual, que é o fenômeno da midiatização. O social passa a ser permeado por práticas comunicacionais. Prova disso é a construção e reconstrução das discussões políticas por meio de dispositivos comunicacionais, assim como a inserção de novos atores, como a religião, o que também ocorre via mídias. Cada vez mais, o que está menos evidente nesse processo midiatizado (como o exemplo citado das religiões de matriz africanas, dentre inúmeros outros) perde relevância e interesse. Assim, nas configurações da sociedade atual, não basta que os sujeitos e grupos conquistem seu reconhecimento político, transformando-se em atores sociais: é necessário que eles conquistem, em um processo complexo, o seu reconhecimento sócio-midiático, transformando-se, assim, também em atores públicos. A religião, no momento atual, parece ter conseguido ambas as coisas.
Além disso, a religião entrou em pauta mais fortemente depois do supostamente inesperado segundo turno. Aí ficaram marcados dois projetos de governo também aparentemente opostos, que se colocamem confronto. Com uma crescente midiatização do sistema político, mas também religioso, colocou-se em cena, junto com a concorrência política, uma disputa mais de fundo, de mercado religioso. Assim, uma polarização que parecia ser apenas política transforma-se, também, em uma polarização no âmbito da religião, entre interesses religiosos – mas claramente mercadológicos – de Igrejas que tentam marcar essa diferença justamente apelando para pontos críticos, extremos.
Mas cabe ainda retomar a pergunta inicial: de que religião estamos falando? Parece-me que a religião que brota no meio do debate político é apenas uma faceta – talvez a mais negativa – do âmbito religioso. A discussão religiosa que se manifestou no debate político mostrou ser extremamente reacionária e conservadora, apelando para aspectos quase medievais de um debate que, de fundo, é do âmbito científico, bioético. A religião acabou se destacando como a “porta dos desesperados” políticos, um último recurso – e totalmente desvirtuado – para a vitória política. As demais religiões que não a cristã, e os demais aspectos religiosos – e seriam inúmeros para serem citados – acabaram se perdendo no mar raso das expectativas mais imediatas de alguns setores político-religiosos.
IHU On-Line - Como você descreve a relação entre as igrejas, a mídia e as eleições no atual cenário eleitoral?
Moisés Sbardelotto - Parece-me que há uma confluência de fatores vários e complexos. Em primeiro lugar, chama a atenção, como dizíamos, essa conquista de um papel social e público por parte de algumas Igrejas. E isso se dá no âmbito religioso, político e também mercadológico. São Igrejas que possuem grande quantidade de fiéis, com uma considerável bancada política, eleita especialmente para o Congresso e o Senado, e que administram grandes complexos comunicacionais, que também adquiriram certa relevância na disputa de mercado midiático. Assim, as Igrejas conseguiram propor sua agenda como moeda de troca social.
A Igreja Católica, por exemplo, apesar de internamente sair dividida do processo eleitoral, especialmente a partir de todo o debate envolvendo a questão do aborto e dos panfletos supostamente impressos pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – o que foi oficialmente desmentido –, reconquista um papel central no debate político. Exemplo disso é o primeiro debate promovido em rede nacional pelas emissoras católicas, com a presença dos quatro candidatos principais do primeiro turno, e transmitido – mesmo que com relativo amadorismo – por grandes redes de comunicação, como a TV Canção Nova, a Rede Aparecida e a Rede Vida, envolvendo simultaneamente TV, rádio e Internet.
Além disso, os grupos religiosos participantes no atual cenário eleitoral têm uma relação estreita com as mídias – o que reforça a tese de um processo de midiatização do social. São cristãos evangélicos e neopentecostais, e católicos de uma ala mais conservadora e "papista" da Igreja (como o padre da Canção Nova que afirmou que não votaria no PT porque o partido seria favorável ao aborto e ao casamento homossexual. Ele disse ainda, por exemplo, que nunca iria celebrar casamento de homossexual "porque a Igreja não quer, e Bento XVI também não quer, e eu estou com Bento XVI, estou com a Igreja"). Ao mesmo tempo, midiaticamente, são grupos relativamente avançados, pois captaram os ritmos, os processos e as linguagens das mídias, convergindo-os para o âmbito religioso. A diferença entre evangélicos e católicos – como se vê no exemplo citado – é que os primeiros também aceitaram se adaptar a esses ritmos, processos e linguagens das mídias, o que os segundos consideram como uma deturpação de sua missão. Porém, o que estes não percebem é que, conforme McLuhan, o que está em jogo não é tanto o conteúdo, mas sim a matriz por meio da qual se dá a produção simbólica, as relações, interações e inter-relações entre os diversos atores que participam dessa cultura e dessa ambiência midiatizada. E, por estarem nas mídias, acabam assumindo essa cultura, mesmo que irrefletidamente.
Como pano de fundo, temos ainda uma questão relacionada ao padrão jornalístico brasileiro, fundamentalmente importado dos Estados Unidos. Diferentemente de outros modelos, como o europeu ou o asiático, o jornalismo norte-americano é moldado por polarizações entre democratas e republicanos, brancos e negros, Sul e Norte, Leste e Oeste, nativos e imigrantes. Então, se o que está em jogo é a matriz da produção simbólica, seria revelador analisar esse aspecto do religioso a partir dos protocolos do padrão jornalístico brasileiro (especialmente da Rede Globo de Televisão, famoso por ter sido implantado em conjunto com a Time-Life norte-americana no período da ditadura).
A título de hipótese, se poderia dizer que esse padrão de jornalismo, portanto, lida muito melhor com opostos, resumindo a complexidade social em A e B. Mas, em nível de Brasil, com uma estrutura social muito mais ampla, complexa e fluida, o social transborda e escapa às mídias. Isso, sem dúvida, restringe muito o debate político mais amplo, focando-se em questões limitadas, passíveis de polarização e polêmica.
IHU On-Line - A mídia, tanto tradicional quanto alternativa, tem poder sobre a formação de opinião ou decisão de voto?
Moisés Sbardelotto - Ao longo das últimas décadas, a teoria comunicacional já superou em vários pontos uma perspectiva que ficou conhecida como a teoria da "agulha hipodérmica", ou seja, aquela ação eficaz e efetiva da mídia – como uma agulha, justamente – sobre alguma população dada. Se isso fazia algum sentido no início do século XX, hoje está bastante longe do que acontece na vida social. As mídias atuais são de outra ordem, especialmente porque "convergem" e se constroem conjuntamente, configurando-se como interfaces ou superfícies multimidiáticas, nas palavras de Antonio Fausto Neto. Por outro lado, o indivíduo não se informa hoje apenas pelo rádio, como na década de 1930, mas sim por um somatório de dispositivos, envolvendo rádio, TV, Internet (e seus vários ambientes), mídias impressas, móveis etc. E, ainda e principalmente, por meio de suas relações interpessoais – midiatizadas ou não.
Nesse sentido, hoje, a reconstrução por parte da sociedade daquilo que é ofertado pelas mídias é um processo complexo. Além da produção (por parte das mídias) e da recepção (por parte da sociedade), há ainda um sistema de resposta social, segundo José Luiz Braga, ou seja, aquilo que a sociedade faz com o que é ofertado pelas mídias, a crítica social que, por diversas formas, é devolvida às mídias, dando continuidade a um processo circulatório da comunicação. Assim, especialmente por dispositivos como as redes sociais como o Twitter, a oferta midiática – por exemplo, em temas eleitorais – dificilmente irá alcançar um suposto "efeito desejado". A ressignificação feita pela sociedade escapa aos interesses e às esperanças midiáticas e eleitoreiras.
Como aponta Manovich, todas as experiências culturais, no fundo, podem ser definidas como uma forma de interação. No caso midiático, essa interação se dá em uma infinidade de possibilidades, especialmente com uma configuração midiática de redes de redes interconectadas. A produção simbólica ocorre por meio de uma hipernarrativa, ainda segundo Manovich, pois o sujeito, especialmente na Internet, constrói sentido a partir de uma oferta da produção, mas as trajetórias possíveis de leitura são múltiplas. A complexidade comunicacional é justamente o "caos" de escolhas particulares feitas dentro de hipernarrativas, que, em nível macro, dão origem à "pauta do dia".
Por isso, parece-me que o fator-surpresa é um elemento que deveria estar sempre presente em uma análise midiática de qualquer fenômeno, especialmente hoje, em ambientes digitais fluidos e autopoiéticos dos mais variados. Poderíamos dizer que existem, em suma, dois fenômenos midiáticos claros hoje (sem dúvida, entre eles, haveria um espectro imenso de nuances, já que estamos falando de um processo fluido – rizomático – como a comunicação midiática): 1) a produção de um acontecimento midiático, em que um elemento do social, algo que nasce na e da sociedade, é apropriado pelas mídias, que o ressignificam e o redimensionam, ofertando-o à sociedade; esta, por sua vez, reconstrói esse acontecimento e realimenta o processo circulatório (como, por exemplo, o caso Isabella, o caso Erenice, etc.).
E, por outro lado, 2) a midiatização do social, em que um fenômeno já nasce por causa e por meio das mídias e assim circula pela sociedade. Ou seja, algo que, sem a existência das mídias, não existiria. Talvez o debate em torno do aborto e da religião tenha nascido assim, sem uma origem única e definida em um fato concreto, mas sim por meio das interações em redes sociais, correntes de e-mail, da circulação comunicacional. Por isso, por parte dos envolvidos, é necessária uma atenção constante e respostas rápidas.
Justamente nesse sentido talvez se poderia fazer uma analogia da comunicação hoje – e também do processo político-midiático – com um incêndio florestal, apesar ou não do caráter de desastre da comparação. Algo dá origem a ele, alguma faísca dá início ao fogo, mas é quase impossível prever que rumo ou que consequências terá o desastre – a não ser que se aja rápida e eficazmente. A comunicação atual, marcada por mídias de grande participação social, sincronizada e ubíqua, é um fluxo sem barreiras, que poderá se dispersar e se configurar em um infinito de possibilidades, em que a construção simbólica ocorrerá ao sabor das interações que se dão nesse processo.
Além disso, as relações entre o midiático e o político, embora cada vez mais intensas, não são de total completude e acoplamento. Há elementos do midiático que escapam ao político, e há elementos do político que escapam ao midiático. Por exemplo, o Twitter é um ambiente que reconstrói constantemente o político (dentre outros), e este, por sua vez, não tem qualquer possibilidade de "controle", nem mesmo de "influência" ou de redirecionamento das ideias ali defendidas ou criticadas. Pelo contrário, todas as tentativas nesse sentido geralmente produzem efeitos contrários e bastante inesperados (basta lembrar certas campanhas publicitárias via Twitter, em que a marca sai com uma imagem muito mais negativa do que entrou).
E, por outro lado, há instâncias da vida política – como o planejamento e as negociações intrapartidárias, os anseios mais imediatos da população e suas reivindicações, os jogos de poder internos ao sistema político etc. – em que as mídias não exercem nenhum tipo considerável de "influência". É nessas zonas escuras e insondáveis que – para o desespero de marqueteiros e assessores – grande parte do jogo político-midiático se define.
Confira
IHU On-Line - Como você vê a dimensão que a religião está tomando nesse debate para o segundo turno?
Moisés Sbardelotto - Por um lado, considero importante que a religião tenha entrado mais fortemente no debate político. Em uma democracia, especialmente em um período de discussão nacional como o processo eleitoral, é relevante que os diversos setores e atores sociais tenham espaço para propor suas ideias e suas pautas próprias. Mas não acredito que essa tenha sido a "pauta definidora" do segundo turno. As últimas pesquisas revelam que os eleitores "religiosos" (cristãos evangélicos) votaram
Porém, por outro lado, pode-se questionar: de que religião estamos falando ao discorrer sobre religião? Pelo que pude observar, estamos falando apenas de setores específicos das Igrejas cristãs, especialmente das evangélicas, neopentecostais e católica. A pauta das religiões de matriz africana, por exemplo, foi debatida ou ao menos ouvida? Por enquanto, não se tem notícia de quais sejam as suas reivindicações ou opiniões a respeito das propostas de governo – mas, obviamente, elas existem.
Isso está ligado, além disso, a um processo comunicacional atual, que é o fenômeno da midiatização. O social passa a ser permeado por práticas comunicacionais. Prova disso é a construção e reconstrução das discussões políticas por meio de dispositivos comunicacionais, assim como a inserção de novos atores, como a religião, o que também ocorre via mídias. Cada vez mais, o que está menos evidente nesse processo midiatizado (como o exemplo citado das religiões de matriz africanas, dentre inúmeros outros) perde relevância e interesse. Assim, nas configurações da sociedade atual, não basta que os sujeitos e grupos conquistem seu reconhecimento político, transformando-se em atores sociais: é necessário que eles conquistem, em um processo complexo, o seu reconhecimento sócio-midiático, transformando-se, assim, também em atores públicos. A religião, no momento atual, parece ter conseguido ambas as coisas.
Além disso, a religião entrou em pauta mais fortemente depois do supostamente inesperado segundo turno. Aí ficaram marcados dois projetos de governo também aparentemente opostos, que se colocam
Mas cabe ainda retomar a pergunta inicial: de que religião estamos falando? Parece-me que a religião que brota no meio do debate político é apenas uma faceta – talvez a mais negativa – do âmbito religioso. A discussão religiosa que se manifestou no debate político mostrou ser extremamente reacionária e conservadora, apelando para aspectos quase medievais de um debate que, de fundo, é do âmbito científico, bioético. A religião acabou se destacando como a “porta dos desesperados” políticos, um último recurso – e totalmente desvirtuado – para a vitória política. As demais religiões que não a cristã, e os demais aspectos religiosos – e seriam inúmeros para serem citados – acabaram se perdendo no mar raso das expectativas mais imediatas de alguns setores político-religiosos.
IHU On-Line - Como você descreve a relação entre as igrejas, a mídia e as eleições no atual cenário eleitoral?
Moisés Sbardelotto - Parece-me que há uma confluência de fatores vários e complexos. Em primeiro lugar, chama a atenção, como dizíamos, essa conquista de um papel social e público por parte de algumas Igrejas. E isso se dá no âmbito religioso, político e também mercadológico. São Igrejas que possuem grande quantidade de fiéis, com uma considerável bancada política, eleita especialmente para o Congresso e o Senado, e que administram grandes complexos comunicacionais, que também adquiriram certa relevância na disputa de mercado midiático. Assim, as Igrejas conseguiram propor sua agenda como moeda de troca social.
A Igreja Católica, por exemplo, apesar de internamente sair dividida do processo eleitoral, especialmente a partir de todo o debate envolvendo a questão do aborto e dos panfletos supostamente impressos pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – o que foi oficialmente desmentido –, reconquista um papel central no debate político. Exemplo disso é o primeiro debate promovido em rede nacional pelas emissoras católicas, com a presença dos quatro candidatos principais do primeiro turno, e transmitido – mesmo que com relativo amadorismo – por grandes redes de comunicação, como a TV Canção Nova, a Rede Aparecida e a Rede Vida, envolvendo simultaneamente TV, rádio e Internet.
Além disso, os grupos religiosos participantes no atual cenário eleitoral têm uma relação estreita com as mídias – o que reforça a tese de um processo de midiatização do social. São cristãos evangélicos e neopentecostais, e católicos de uma ala mais conservadora e "papista" da Igreja (como o padre da Canção Nova que afirmou que não votaria no PT porque o partido seria favorável ao aborto e ao casamento homossexual. Ele disse ainda, por exemplo, que nunca iria celebrar casamento de homossexual "porque a Igreja não quer, e Bento XVI também não quer, e eu estou com Bento XVI, estou com a Igreja"). Ao mesmo tempo, midiaticamente, são grupos relativamente avançados, pois captaram os ritmos, os processos e as linguagens das mídias, convergindo-os para o âmbito religioso. A diferença entre evangélicos e católicos – como se vê no exemplo citado – é que os primeiros também aceitaram se adaptar a esses ritmos, processos e linguagens das mídias, o que os segundos consideram como uma deturpação de sua missão. Porém, o que estes não percebem é que, conforme McLuhan, o que está em jogo não é tanto o conteúdo, mas sim a matriz por meio da qual se dá a produção simbólica, as relações, interações e inter-relações entre os diversos atores que participam dessa cultura e dessa ambiência midiatizada. E, por estarem nas mídias, acabam assumindo essa cultura, mesmo que irrefletidamente.
Como pano de fundo, temos ainda uma questão relacionada ao padrão jornalístico brasileiro, fundamentalmente importado dos Estados Unidos. Diferentemente de outros modelos, como o europeu ou o asiático, o jornalismo norte-americano é moldado por polarizações entre democratas e republicanos, brancos e negros, Sul e Norte, Leste e Oeste, nativos e imigrantes. Então, se o que está em jogo é a matriz da produção simbólica, seria revelador analisar esse aspecto do religioso a partir dos protocolos do padrão jornalístico brasileiro (especialmente da Rede Globo de Televisão, famoso por ter sido implantado em conjunto com a Time-Life norte-americana no período da ditadura).
A título de hipótese, se poderia dizer que esse padrão de jornalismo, portanto, lida muito melhor com opostos, resumindo a complexidade social em A e B. Mas, em nível de Brasil, com uma estrutura social muito mais ampla, complexa e fluida, o social transborda e escapa às mídias. Isso, sem dúvida, restringe muito o debate político mais amplo, focando-se em questões limitadas, passíveis de polarização e polêmica.
IHU On-Line - A mídia, tanto tradicional quanto alternativa, tem poder sobre a formação de opinião ou decisão de voto?
Moisés Sbardelotto - Ao longo das últimas décadas, a teoria comunicacional já superou em vários pontos uma perspectiva que ficou conhecida como a teoria da "agulha hipodérmica", ou seja, aquela ação eficaz e efetiva da mídia – como uma agulha, justamente – sobre alguma população dada. Se isso fazia algum sentido no início do século XX, hoje está bastante longe do que acontece na vida social. As mídias atuais são de outra ordem, especialmente porque "convergem" e se constroem conjuntamente, configurando-se como interfaces ou superfícies multimidiáticas, nas palavras de Antonio Fausto Neto. Por outro lado, o indivíduo não se informa hoje apenas pelo rádio, como na década de 1930, mas sim por um somatório de dispositivos, envolvendo rádio, TV, Internet (e seus vários ambientes), mídias impressas, móveis etc. E, ainda e principalmente, por meio de suas relações interpessoais – midiatizadas ou não.
Nesse sentido, hoje, a reconstrução por parte da sociedade daquilo que é ofertado pelas mídias é um processo complexo. Além da produção (por parte das mídias) e da recepção (por parte da sociedade), há ainda um sistema de resposta social, segundo José Luiz Braga, ou seja, aquilo que a sociedade faz com o que é ofertado pelas mídias, a crítica social que, por diversas formas, é devolvida às mídias, dando continuidade a um processo circulatório da comunicação. Assim, especialmente por dispositivos como as redes sociais como o Twitter, a oferta midiática – por exemplo, em temas eleitorais – dificilmente irá alcançar um suposto "efeito desejado". A ressignificação feita pela sociedade escapa aos interesses e às esperanças midiáticas e eleitoreiras.
Como aponta Manovich, todas as experiências culturais, no fundo, podem ser definidas como uma forma de interação. No caso midiático, essa interação se dá em uma infinidade de possibilidades, especialmente com uma configuração midiática de redes de redes interconectadas. A produção simbólica ocorre por meio de uma hipernarrativa, ainda segundo Manovich, pois o sujeito, especialmente na Internet, constrói sentido a partir de uma oferta da produção, mas as trajetórias possíveis de leitura são múltiplas. A complexidade comunicacional é justamente o "caos" de escolhas particulares feitas dentro de hipernarrativas, que, em nível macro, dão origem à "pauta do dia".
Por isso, parece-me que o fator-surpresa é um elemento que deveria estar sempre presente em uma análise midiática de qualquer fenômeno, especialmente hoje, em ambientes digitais fluidos e autopoiéticos dos mais variados. Poderíamos dizer que existem, em suma, dois fenômenos midiáticos claros hoje (sem dúvida, entre eles, haveria um espectro imenso de nuances, já que estamos falando de um processo fluido – rizomático – como a comunicação midiática): 1) a produção de um acontecimento midiático, em que um elemento do social, algo que nasce na e da sociedade, é apropriado pelas mídias, que o ressignificam e o redimensionam, ofertando-o à sociedade; esta, por sua vez, reconstrói esse acontecimento e realimenta o processo circulatório (como, por exemplo, o caso Isabella, o caso Erenice, etc.).
E, por outro lado, 2) a midiatização do social, em que um fenômeno já nasce por causa e por meio das mídias e assim circula pela sociedade. Ou seja, algo que, sem a existência das mídias, não existiria. Talvez o debate em torno do aborto e da religião tenha nascido assim, sem uma origem única e definida em um fato concreto, mas sim por meio das interações em redes sociais, correntes de e-mail, da circulação comunicacional. Por isso, por parte dos envolvidos, é necessária uma atenção constante e respostas rápidas.
Justamente nesse sentido talvez se poderia fazer uma analogia da comunicação hoje – e também do processo político-midiático – com um incêndio florestal, apesar ou não do caráter de desastre da comparação. Algo dá origem a ele, alguma faísca dá início ao fogo, mas é quase impossível prever que rumo ou que consequências terá o desastre – a não ser que se aja rápida e eficazmente. A comunicação atual, marcada por mídias de grande participação social, sincronizada e ubíqua, é um fluxo sem barreiras, que poderá se dispersar e se configurar em um infinito de possibilidades, em que a construção simbólica ocorrerá ao sabor das interações que se dão nesse processo.
Além disso, as relações entre o midiático e o político, embora cada vez mais intensas, não são de total completude e acoplamento. Há elementos do midiático que escapam ao político, e há elementos do político que escapam ao midiático. Por exemplo, o Twitter é um ambiente que reconstrói constantemente o político (dentre outros), e este, por sua vez, não tem qualquer possibilidade de "controle", nem mesmo de "influência" ou de redirecionamento das ideias ali defendidas ou criticadas. Pelo contrário, todas as tentativas nesse sentido geralmente produzem efeitos contrários e bastante inesperados (basta lembrar certas campanhas publicitárias via Twitter, em que a marca sai com uma imagem muito mais negativa do que entrou).
E, por outro lado, há instâncias da vida política – como o planejamento e as negociações intrapartidárias, os anseios mais imediatos da população e suas reivindicações, os jogos de poder internos ao sistema político etc. – em que as mídias não exercem nenhum tipo considerável de "influência". É nessas zonas escuras e insondáveis que – para o desespero de marqueteiros e assessores – grande parte do jogo político-midiático se define.
Fonte: IHU, Instituto Humanitas, Unisinos: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=29&task=detalhe&id=37547
Mídia, política e religião: possibilidades e limites. Entrevista especial com Pedrinho Guareschi
Por IHU
Pedrinho Guareschi é graduado em Teologia pelo Instituto de Estudos Superiores de São Paulo. Também possui graduação em Letras, pela Universidade de Passo Fundo e em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Imaculada Conceição. Na PUCRS fez especialização em Sociologia. É mestre em Psicologia Social pela Marquette University Milwaudee. Na mesma área fez doutorado pela University Of Wisconsin At Madison. Atualmente, é professor da Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É autor de Mídia e Democracia (Porto Alegre: Evangraf, 2005), Os construtores da informação: meios de comunicação, ideologia e ética (Petrópolis: Vozes, 2000), entre outros.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como o senhor analisa a dimensão que a religião está tomando nesse debate para o segundo turno?
Pedrinho Guareschi – Começaria sugerindo que se tenha clara uma distinção, que é mais ou menos pacífica, entre religião e igrejas. As igrejas são instituições históricas e, por isso mesmo, carregam consigo todas as limitações de sua historicidade: incompletude, contradições, mudanças, etc. Ao passo que as religiões são inspirações, conjuntos de mensagens, tentativas de resposta a problemas vivenciais do ser humano, tentativas de dar sentido às aspirações transcendentes de toda pessoa.
A partir daí, podemos dizer que as igrejas são instituições que tentam, na medida do possível, comunicar, transmitir as “mensagens” das diferentes religiões. Mas as igrejas são apenas “embalagens”, e nenhuma “embalagem” dá conta de transmitir toda a mensagem. A mensagem faz explodir qualquer embalagem. Só mesmo um fundamentalista (e são muitos!) para dizer que sua embalagem contém toda a mensagem e que essa é a única verdade.
IHU On-Line – A mídia, tanto tradicional quanto alternativa, tem poder sobre a formação de opinião ou decisão de voto?
Pedrinho Guareschi – Aqui se apresenta outra distinção fundamental: as “mensagens” são atingidas pela fé, pela crença. Não há maneira de você querer obrigar alguém a “acreditar” através de processos científicos. Isso seria ir além de suas possibilidades. A ciência (sociologia, psicologia social, antropologia etc.) pode ter algo a dizer sobre determinadas instituições, mas devem calar quando se fala de crença e fé.
IHU On-Line – Muitos dos padres que têm “saído em campanha” neste pleito são jovens formados recentemente. O que o senhor pode nos dizer sobre a formação atual do clero?
Pedrinho Guareschi – Aqui chegamos a um problema extremamente delicado: as ciências podem ter algo a dizer quando as crenças são claramente manipuladas a serviço de determinadas instituições. Como diz, com argúcia, o sociólogo Peter Berger, deve-se começar a desconfiar quando há uma correlação altíssima entre “acreditar na Santíssima Trindade” e a distribuição de renda das pessoas; só chegam a acreditar os que recebem determinada quantia. Alguma coisa estranha estaria acontecendo.
IHU On-Line – Tanto a Canção Nova quanto os programas do pastor Silas Malafaia tem sido usado para abrir o voto e defender Serra. Que papel essas mídias têm na opção do voto dos fiéis?
Pedrinho Guareschi – Há, pois, um campo específico que é o da fé e da crença, isto é, o da religião. A dimensão religiosa fica sendo a janela aberta ao transcendente. Ela não pode ser trancada e a busca por essa transcendência não pode ser impedida. Que deveriam fazer, então, as igrejas (instituições religiosas)? Elas deveriam ser as que levam à frente, as que impulsionam os seres humanos em busca dessa transcendência. Elas deveriam se ocupar desse espaço transcendente, místico, religioso afinal.
Mais um passo: A política é uma ciência que trata da organização da sociedade. Esse é seu campo específico. E deve trabalhar através da reflexão, da pesquisa, da busca das melhores estratégias para poder servir melhor à população.
IHU On-Line – Analisando essa relação entre religião e política, para o senhor, o está acontecendo hoje no Brasil?
Pedrinho Guareschi – Começando pela política. Percebe-se, e essa é uma prática desonesta e inaceitável, que alguns políticos e partidos tentam fazer uso desse espaço transcendente para conseguir seus intentos: eleger candidatos, impor determinados sistemas etc. Querem fazer uso da fé e da crença das pessoas para proveito próprio. Deve-se, então, repudiar, com veemência, a manipulação e instrumentalização eleitoral que se faz da religião, de modo oportunista, com a clara intenção de confundir as pessoas.
E é igualmente desonesto e inaceitável quando igrejas (ou seus responsáveis institucionais), que deveriam ocupar-se da promoção desse espaço transcendente, explicitando os valores éticos e os princípios que retiram da “mensagem”, começam a fazer uso dessa dimensão para eleger, controlar determinados candidatos e condenar determinados partidos. Estão extrapolando de seu papel. As igrejas podem, com toda humildade, como “servidoras”, lembrar aos fiéis que a elas aderem através de uma fé livre e esclarecida, esses princípios e orientações. Ao mesmo tempo essas igrejas deveriam repudiar a manipulação e a instrumentalização eleitoral da “religião” com a clara intenção de confundir, iludir e tirar proveito de pessoas menos esclarecidas.
Numa sociedade democrática e pluralista, que se costuma chamar de laica, todos devem ter o direito de dizer sua palavra, expressar sua opinião, manifestar seu pensamento, inclusive as igrejas. Outra coisa bem diferente é as igrejas quererem arvorar-se em donas também do político, querendo obrigar a todos a seguirem seus princípios e crenças. Elas devem servir e orientar seus fiéis com humildade e respeito.
E os partidos e candidatos deveriam saber que a dimensão da crença, da fé, é sagrada e não pode ser manipulada para proveito político. Como o povo brasileiro se guia mais pelo coração que pela razão, e a religião se situa nessa dimensão do afeto e da crença, é uma grande desonestidade aproveitar-se disso tanto para rebaixar outros candidatos como para tirar vantagem política.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como o senhor analisa a dimensão que a religião está tomando nesse debate para o segundo turno?
Pedrinho Guareschi – Começaria sugerindo que se tenha clara uma distinção, que é mais ou menos pacífica, entre religião e igrejas. As igrejas são instituições históricas e, por isso mesmo, carregam consigo todas as limitações de sua historicidade: incompletude, contradições, mudanças, etc. Ao passo que as religiões são inspirações, conjuntos de mensagens, tentativas de resposta a problemas vivenciais do ser humano, tentativas de dar sentido às aspirações transcendentes de toda pessoa.
A partir daí, podemos dizer que as igrejas são instituições que tentam, na medida do possível, comunicar, transmitir as “mensagens” das diferentes religiões. Mas as igrejas são apenas “embalagens”, e nenhuma “embalagem” dá conta de transmitir toda a mensagem. A mensagem faz explodir qualquer embalagem. Só mesmo um fundamentalista (e são muitos!) para dizer que sua embalagem contém toda a mensagem e que essa é a única verdade.
IHU On-Line – A mídia, tanto tradicional quanto alternativa, tem poder sobre a formação de opinião ou decisão de voto?
Pedrinho Guareschi – Aqui se apresenta outra distinção fundamental: as “mensagens” são atingidas pela fé, pela crença. Não há maneira de você querer obrigar alguém a “acreditar” através de processos científicos. Isso seria ir além de suas possibilidades. A ciência (sociologia, psicologia social, antropologia etc.) pode ter algo a dizer sobre determinadas instituições, mas devem calar quando se fala de crença e fé.
IHU On-Line – Muitos dos padres que têm “saído em campanha” neste pleito são jovens formados recentemente. O que o senhor pode nos dizer sobre a formação atual do clero?
Pedrinho Guareschi – Aqui chegamos a um problema extremamente delicado: as ciências podem ter algo a dizer quando as crenças são claramente manipuladas a serviço de determinadas instituições. Como diz, com argúcia, o sociólogo Peter Berger, deve-se começar a desconfiar quando há uma correlação altíssima entre “acreditar na Santíssima Trindade” e a distribuição de renda das pessoas; só chegam a acreditar os que recebem determinada quantia. Alguma coisa estranha estaria acontecendo.
IHU On-Line – Tanto a Canção Nova quanto os programas do pastor Silas Malafaia tem sido usado para abrir o voto e defender Serra. Que papel essas mídias têm na opção do voto dos fiéis?
Pedrinho Guareschi – Há, pois, um campo específico que é o da fé e da crença, isto é, o da religião. A dimensão religiosa fica sendo a janela aberta ao transcendente. Ela não pode ser trancada e a busca por essa transcendência não pode ser impedida. Que deveriam fazer, então, as igrejas (instituições religiosas)? Elas deveriam ser as que levam à frente, as que impulsionam os seres humanos em busca dessa transcendência. Elas deveriam se ocupar desse espaço transcendente, místico, religioso afinal.
Mais um passo: A política é uma ciência que trata da organização da sociedade. Esse é seu campo específico. E deve trabalhar através da reflexão, da pesquisa, da busca das melhores estratégias para poder servir melhor à população.
IHU On-Line – Analisando essa relação entre religião e política, para o senhor, o está acontecendo hoje no Brasil?
Pedrinho Guareschi – Começando pela política. Percebe-se, e essa é uma prática desonesta e inaceitável, que alguns políticos e partidos tentam fazer uso desse espaço transcendente para conseguir seus intentos: eleger candidatos, impor determinados sistemas etc. Querem fazer uso da fé e da crença das pessoas para proveito próprio. Deve-se, então, repudiar, com veemência, a manipulação e instrumentalização eleitoral que se faz da religião, de modo oportunista, com a clara intenção de confundir as pessoas.
E é igualmente desonesto e inaceitável quando igrejas (ou seus responsáveis institucionais), que deveriam ocupar-se da promoção desse espaço transcendente, explicitando os valores éticos e os princípios que retiram da “mensagem”, começam a fazer uso dessa dimensão para eleger, controlar determinados candidatos e condenar determinados partidos. Estão extrapolando de seu papel. As igrejas podem, com toda humildade, como “servidoras”, lembrar aos fiéis que a elas aderem através de uma fé livre e esclarecida, esses princípios e orientações. Ao mesmo tempo essas igrejas deveriam repudiar a manipulação e a instrumentalização eleitoral da “religião” com a clara intenção de confundir, iludir e tirar proveito de pessoas menos esclarecidas.
Numa sociedade democrática e pluralista, que se costuma chamar de laica, todos devem ter o direito de dizer sua palavra, expressar sua opinião, manifestar seu pensamento, inclusive as igrejas. Outra coisa bem diferente é as igrejas quererem arvorar-se em donas também do político, querendo obrigar a todos a seguirem seus princípios e crenças. Elas devem servir e orientar seus fiéis com humildade e respeito.
E os partidos e candidatos deveriam saber que a dimensão da crença, da fé, é sagrada e não pode ser manipulada para proveito político. Como o povo brasileiro se guia mais pelo coração que pela razão, e a religião se situa nessa dimensão do afeto e da crença, é uma grande desonestidade aproveitar-se disso tanto para rebaixar outros candidatos como para tirar vantagem política.
Fonte: IHU, Instituto Humanitas, Unisinos:
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=29&task=detalhe&id=37683
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