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O processo eleitoral no Brasil chegou ao fim. Nesta etapa pós-eleições, este blog continuará acompanhando as análises e desdobramentos da participação dos evangélicos (e da dimensão religiosa) no pleito 2010.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Evangélicos - quem fala por nós nestas eleições?

Por Derval Dasilio

Sem surpresas, um líder evangélico da mídia assume a propaganda política no horário eleitoral em favor das forças conservadoras, retroagindo ao tempo em que  certos evangélicos apoiavam abertamente a ditadura militar, a tortura nos calabouços do Dói-Codi, no regime de exceção instalado no país. Esperando a reedição do autoritarismo, Silas Malafaia apóia Serra em nome da comunidade evangélica, que não lhe deu procuração alguma. Ele se pronuncia no programa partidário que reúne o PSDB e o DEM, e outros partidos da direita histórica na política brasileira. Reformam os antigos programas da UDN/ARENA/PFL/DEM, por osmose. Numa pesquisa recente entre jovens evangélicos Malafaia é uma das personalidades mais admiradas no meio evangélico, cinco lugares à frente de Jesus Cristo. É inadmissível que ele fale em nosso nome no horário eleitoral. Não autorizamos!

Em nome da liberdade e da pluralidade evangélica, a Aliança de Batistas do Brasil tornou pública sua repulsa a toda estratégia político-religiosa contra as candidaturas socialistas, levando em conta Marina e Dilma. Nesse sentido, o documento deixa claro à sociedade brasileira que “o discurso de demonização dos socialistas não representa o que se poderia conceber como o pensamento dos batistas brasileiros”. E ainda nem conheciam o teor do discurso pretenciosamente exorcista do pastor Malafaia.

Conheço Serra desde a luta da resistência à ditadura militar. Logo, observo os vultos do PT, ao qual ele pertenceu nas origens. Saiu bem cedo, por sua identificação com as oligarquias que se seguiram. Percebem-se as diferenças desde os primeiros momentos. Mas Serra não era UDN, Arena (depois PFL/DEM). Identificava-se com FHC, que liberalizou-se e abdicou da centro-esquerda para a direita onde está até o momento. Com o PSDB/DEM, evidentemente. Uma questão de afinidades que consagra um bom casamento ideológico.

Mino Carta escreveu, pensando no jeito Serra de fazer política, que “a maioria brasileira não é capaz de ódio, mas sua característica mais pronunciada é a resignação. Já o ódio tem ibope elevado na minoria, aquele resistentemente alimentado em relação à maioria. O sulista feliz da vida enquanto mantém sua primazia e o remediado confiante em um futuro favorável à moda dos atuais privilegiados, que odeiam o nortista pobre, especialmente. Incluam-se os miseráveis em qualquer latitude. Eles continuam a querer um país para a elite e uma democracia sem povo”, referindo-se aos apoios de Serra.

Tem aparecido panfletos distribuídos pelos padres da Canção Nova: Serra é apresentado como candidato de Jesus Cristo, e Dilma a candidata do Diabo. É demais! Não podemos acompanhar o ódio religioso dos que espalharam  o panfleto no dia da Padroeira do Brasil. Sem a arrogância de falar por quem não a autorizou a tanto, a pastora metodista Nancy Cardoso critica o candidato que pretende ser clone de FHC: “Que quanta tanta barriga de mulher nas propagandas! Tanta mulher e nenhuma mulher de verdade, porque não há nenhum projeto de escuta e de encaminhamento de políticas de mulheres como Marina e Dilma, e mulheres do campo e da cidade, proletárias, camponesas, suas misérias sociais e suas lutas”.  Ser contra a propriedade capitalista é ofender a Deus? O deus deles é o capital, por isso os  panfletos que materializam a campanha de Silas Malafaia em favor de Serra  identificam-no com o cristo da religião de mercado.

Por fim, para que sejamos capazes de escolher governantes sensíveis às injustiças e desigualdades que marcam a vida nacional, não oferecendo apoios e votos solidários ou corporativos a quem já demonstrou que serve aos poderosos, através de acordos indecorosos, pensemos como verdadeiros evangélicos. Precisamos ser cônscios. Observemos se os persistentes e ainda elevados níveis de miséria, pobreza e desproteção sanitária e escolar estão sendo corrigidos. Economistas qualificados com Paul Singer afirmam que sim.  Quem está mais perto ou atacando a ausência de direitos à saúde, habitação, instrução de qualidade, básica e universitária, antes oferecidos às elites mas negligenciadas em referência à população pobre? Estejamos cientes dos riscos que ainda correm as novas gerações desta sociedade, crianças, jovens e idosos, face à brutalidade do crime organizado e espontâneo. Lembremo-nos que são resultados do neocapitalismo recente. Drogas, violência intra-familiar, deserção escolar, trabalho precoce, prostituição juvenil, menoridade envolvida com o crime de adultos acentuaram-se. Ameaças severas recaem sobre a sociedade inteira. Perguntemos quem está prometendo voltar aos privilégios concedidos às elites. Tudo isso é ignorado na candidatura que Malafaia defende. Quem o acompanhará?

Derval Dasílio é Pastor da Igreja Presbiteriana Unida e professor do Centro de Formação Teológica Richard Shaull, em Vitória, ES

Fonte: Derval Dasilio - Escritos & Artigos - http://derv.wordpress.com/

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